Olá caro leitor!
No decorrer de um curso que desenvolvi na minha área profissional - A Psicologia de Alto Rendimento Desportivo - fui desafiado, através de um trabalho individual a resolver o caso de Fernando Marqués, atleta do Clube Villa Alpina. Marqués entrou na equipa já a época ia a meio e acabou por ser um elemento determinante no alcance dos objetivos propostos. Ou seja, o seu nível de produtividade foi elevado, dentro das tarefas e do papel que lhe era solicitado. Um craque que correspondeu dentro de campo. Porém, fora das quatro linhas, a adesão a outras atividades de treino eram reduzidas (nutrição, psicologia, treino funcional…). Também no balneário o seu comportamento não era o mais ajustado, mantendo-se fora das atividades do grupo e inclusive do cumprimento das regras que na fase inicial da época foram estabelecidas por todos os elementos da equipa técnica e atletas. Em suma, a situação que está em risco para esta nova época é sem duvida a estabilidade de grupo - as suas regras, normas de conduta e valores. Como iremos então fazer com que o atleta integre o processo??
Iniciamos aqui uma proposta de metodologia de comunicação para a época desportiva. Temos de agarrar o atleta desde o primeiro ponto de interação. O atleta é fundamental, mas temos de salvaguardar a estabilidade do grupo. Apresento então a metodologia de trabalho, tendo em consideração o enquadramento da época anterior. A proposta é feita tendo como base uma metodologia de comunicação, onde apresento várias ferramentais que poderão ser utilizadas pelo treinador no decorrer da época, com o objetivo de potenciar a produtividade, estabilidade de grupo e a desenvolvimento individual.
Segue o trabalho desenvolvido.
"“A entrada de Fernando Marqués na
temporada acabou sendo um elemento chave para garantir que o time de futebol
permanecesse no topo das tabelas.” Como nos diz o texto associado à atividade, Fernando
Marqués foi um ativo essencial no alcance das metas da época, sendo um ativo a
manter por parte do clube, para a época seguinte. A nivel de tarefa este atleta
é uma referencia, sendo destacado pelo meio externo ao clube como um dos
principais promotores do alcance do sucesso. Porém, para além da produtividade
da equipa é essencial trabalharmos e garantirmos a estabilidade do grupo e
neste sentido, a proposta de atividade relata o seguinte:
- A administração do Clube Villa Alpina
exigiu que o líder mantivesse esse jogador “a todo custo”, mesmo que isso
significasse conceder privilégios e recompensas a ele.
- Esse jogador tem um histórico
problemático fora do campo e esteve envolvido em várias polêmicas e atos de
agressão com colegas específicos.
- Além de escândalos como esses, ele
recusa se submeter a controles de peso de rotina, desafia o corpo técnico,
mostra agressividade física e verbal, atrasa-se, tem multas por dirigir
embriagado etc.
Relembro as três dimensões da que fazem parte das funções de um lider e que
afetam diretamente a o crescimento e estabilidade da equipa: Produtividade,
ambiente de grupo e desenvolvimento individual. Com os relatos comportamentais
do jogador, encontramo-nos perante um processo de instabilidade que afeta o
ambiente de grupo, colocando neste caso o lider num dilema – Rendimento versus
grupo, ou, Produtividade versus estabilidade. É nesta gestão de conflito que o
lider tem de atuar na formação e construção da próxima época e é com algumas
sugestões e ferramentas práticas, em forma de diálogo, que irei expor algumas
das ideias para promover estabilidade ao grupo de trabalho, no sentido de
potenciar a dimensão que mais se destaca na liderança: a produtividade.
Como sabemos, a comunicação permite que
realizemos qualquer coisa a que nos proponhamos, sendo sempre um processo que
requer a participação ativa de todos os elementos envolvidos, tanto treinadores
como atletas necessitam de compreender as reações uns dos outros, sendo o dia a
dia essencial nesse processo de aprendizagem. De forma a que a comunicação seja
efetuada com o máximo de eficácia e mínimo de barreiras e subjetividade
possivel, de seguida enalteço algumas diretrizes essenciais a serem aplicadas
pelos lideres:
- Ser direto;
- ser o próprio sujeito das suas mensagens;
ser
minucioso e especifico;
- ser claro e coerente;
- informar sobre as necessidades e
sentimentos de forma clara;
- separar os factos das opiniões;
- concentrar-se numa
coisa de cada vez;
- comunicar mensagens imediatamente;
garantir que a mensagem
nao contenha o significado errado;
- manter permanentemente uma atidude aberta e
de apoio;
- ser coerente com as mensagens não verbais (tendo esta um grande peso
no processo comunicacional); reforçar através da repetição (se exagerar);
- garantir que a mensagem seja adequada às referencias do receptor (adaptar a
linguagem ao atleta);
- gerar feedback para descobrir se a mensagem foi recebida
de forma correta por parte do atleta.
Estas ideias padrão a serem utilizadas na habilidade
interpessoal – comunicação, são essenciais para aumentarmos a eficácia nas
ferramentas que iremos de seguida abordar, sendo as duas de maior destaque no
processo de liderança no contacto com os atletas – A entrevista pessoal e a
entrevista de grupo.
Podemos referir que a entrevista pessoal é um espaço de conversa
entre duas pessoas, determinado por um espaço de tempo e com um objetivo
especifico. Neste caso, o principal objetivo é o líder ter a capacidade de
aceder ao núcleo de personalidade do atleta (crenças, valores e pensamentos).
Sendo um processo que tem de ser feito com cuidado, paciência e respeito pela
equipa e pelo espaço da outra pessoa, neste caso, o atleta. Este procedimento
deve fazer parte do planeamento anual de tarefas do líder, onde a
calendarização e o registo dos conteúdos das mesmas, devem ser um denominador
para a sua eficácia de aplicação.
Outra ferramenta de comunicação destacada pela literatura e a
ser utilizada no caso prático proposto é a Reunião de Grupo. Esta ferramenta
caracteriza-se como uma das mais valiosas técnicas que o líder possui para
gerir a equipa, a sua produtividade, cultura e ambiente de grupo. Podemos
salientar que a reunião expõe o líder em frente da toda a equipa e o seu
desempenho apresenta características o fazem obrigatoriamente destacar. Um
líder de alto desempenho desportivo deve reconhecer os momentos e fases da
reunião, ter um entendimento claro e objetivo e verificar sempre o efeito que a
reunião teve, tendo sempre como conhecimento base de que este tipo de reuniões
trabalham duas dimensões claras: a produtividade e o ambiente de grupo.
Enquadrada e explorada que está a literatura que vai servir de
base para o caso prático do atleta Fernando Marqués, vamos destacar os tópicos
que promovem no lider o um dilema para que depois possamos criar uma potencial
solução para o contexto pratico.
·
O líder não
obteve o consentimento do jogador para uma entrevista pessoal.
·
Não aconteceram mais
reuniões em grupo. Elas eram
interrompidas pelas colocações não pertinentes do jogador.
·
O clima de
grupo foi afetado por uma falta de camaradagem, de escutar o outro e
de imparcialidade.
·
Reprovação(raiva e irritação) dos outros jogadores direcionada ao
líder por recompensar e encorajar comportamento inapropriado. Eles se sentem
“desapontados”.
Metodologia a Aplicar
A estutura
que o lider vai seguir:
1 - Reunião equipa técnica para expor a metodologia
2 - Entrevista Informal com o atleta , devido à sua relutância
em aceitar uma entrevista formal – Ponto Central!
3 - Entrevista Invididual Formal - Encontrar pequenas motivações
no atleta que o permita aderir ao projeto atual, não só a nivel de
produtividade mas também de estabilidade – ambiente de grupo. Realizar uma
semana antes de começar a época para ter o Fernando em contexto de adesão antes
da reunião de grupo de inicio do ano;
4 - Reunião de Grupo Inicio do Ano – Ambiente de Grupo –
Esclarecimento e alinhamento das normas e regras de coexistência, com
integração e adesão do Marqués, resolvendo aqui a questão da habilidade
interpessoal do líder – imparcialidade.
Passamos ao
Diálogo/Cenário
1.
Reunião de Equipa Técnica –
Lider: “Pessoal temos de fazer alguma coisa relativamente ao Fernando. É
unanime que ele é muito importante para nós e para o alcance do que
pretendemos. Dá-nos números como vos mostro aqui na estatística – Golos e
assistências. Mas por outro lado ele estraga isto tudo a nível de grupo. As
normas que temos perdem valor porque ele não as cumpre nem adere, tem regalias
relativamente aos outros, é violento para com os colegas e não se envolve em
nenhuma tarefa que eu lhe proponho. Tenho vontade de o mandar embora? As vezes!
Mas não é a melhor forma de gerir este conflito. Nós sabemos que ele é
importante para nós e a direção só vê a continuidade dele como possibilidade.
Vamos ter de fazer com que ele adira. Tenho de o conhecer melhor, tenho de
saber quais as suas motivações e ir por aí. Vou aproveitar agora os exames
médicos antes de começar a época e vou falar informalmente com ele.”
2.
Entrevista Informal com
Fernando Marqués: “ Quero falar com ele de forma espontânea, sem preparação da
parte dele” Fernando está no balneário e só depois vai aos exames, vou apanhá-lo
aí.
Treinador:
“Boas Fernando, essas férias?”
Fernando:
“Boas. Foram boas, deu para visitar a família e divertir-me.”
Treinador:
“Ainda bem que deu para desligares e vires com energia para este novo desafio.
Ainda não tinha falado contigo, parabéns pelos números do ano passado. Foste
importante para nós, para nos mantermos no topo da tabela”
Fernando:
Pagam-me para isso. Só quero chegar lá dentro e mostrar o meu talento.
Treinador:
Sabes penso muitas vezes no que motiva os meus atletas a continuarem na
carreira a este nível. Se é só o fator económico. Se é a paixão. Se é o
equilíbrio entre as duas? Gostava que um dia me dissesses quais as tuas
motivações. Posso e quero ajudar-te a alcança-las. O ano passado sabes bem que
a nível de grupo nem sempre foi fácil o teu percurso aqui e lembras-te tão bem
como eu os episódios internos que tivemos de lidar. Gostava de falar contigo e
que integrasses as entrevistas que temos ao longo da época. Podemos ambos
crescer. Tens talento, és importante dentro do campo e podes chegar longe.
Fernando:
Mister sempre fiz o meu trabalho e pouco me importei com o grupo, quero é fazer
o meu e fora disto aproveitar as condições que esta vida me dá. Nunca ninguém
me tinha falado desta forma aberta que o mister falou. Pode contar comigo para
uma entrevista. Depois logo vejo se quero continuar.
Treinador:
Ok. Combinado. Gostava que fosse antes de começar a época 1 semana. Os teus
colegas iniciam no tempo normal. Na Primeira semana. Ok? Terça feira as 15h.
Fernando:
Combinado.
3.
Entrevista Pessoal Formal –
Quero explorar, investigar e conhecer melhor o Fernando. Se possível no fim
definir um papel e direciona-lo num processo de adesão comigo e para com o
grupo. Quero encontrar motivações e explorar.(segue um pequeno resumo da
conversa)
Treinador –
Fernando como estás? Esse final de ferias?
Fernando –
Mister tudo bem. Aproveitei para voltar a estar com os amigos aqui da cidade e
pouco mais. Olhe fiquei a pensar naquela pergunta que me fez. Das motivações.
Nunca ninguém me perguntou isso. E sabe. Sonho ser o melhor marcador deste
campeonato. Mas sei que apesar de ser o melhor marcador da equipa, ainda estou
longe de atingir essa meta. Acho que é o que mais me motiva.
Treinador –
Fico contente de saber que pensaste no que te disse naquele dia no balneário. O
que achas que te tem feito aproximar e afastar disso que tanto queres. Fala-me
de comportamentos.
Fernando –
Faço bem as coisas dentro do campo. Talvez tenha de melhorar o cabeceamento.
Penso que é só mas quero melhorar isso.
Treinador –
És bom no remate, apareces muito bem ao segundo poste e a tua leitura de jogo
de costas para a baliza ajuda-te nas desmarcações. Podes melhorar o
cabeceamento. É verdade e vamos trabalhar nisso. Olha e aspetos de grupo.
Lembra-te que a forma como te dás com os teus colegas e te integras nos hábitos
do dia a dia do grupo melhorar a interdependência. Fazem com que as ajudas e o
entendimento dentro do campo também seja melhor.
Fernando –
Pois esse é um tema que não gosto muito de falar. Eu sou assim mesmo,
revolto-me e só me preocupo com o meu trabalho sem ligar muito para o grupo.
Treinador –
Lembra-te que vais ficar aqui neste clube mais um ano. Os adeptos e a direção
gostam de ti. Tens essa grande motivação de ser o melhor marcador do
campeonato. Eu acho possível, mas para isso também tens de ter todas as condições
estáveis e favoráveis para ti e para a equipa.
Fernando –
Vou pensar no que o mister disse. Quero chegar longe e reconheço que nem sempre
estou alinhado com os interesses do grupo.
Treinador –
Na primeira semana de trabalho vamos fazer a reunião de grupo, vou passar as
normas e as regras. Vê e alinha-te com elas. Para bem dos teus sonhos e da
estabilidade da equipa.
Fernando – Ok mister.
Estou consigo e com o projeto.
4 -
Reunião de Grupo Inicio do Ano – Ambiente de Grupo
- Esclareci as normas e regras de
coexistência; avancei com os objetivos, sempre numa lógica de compartilhar
informação com os colegas;
- O
Fernando pediu a palavra, enquadrou os comportamentos individuais do ano
passado e aderiu às normas por todos definidas;
- O
atleta aderiu ao programa de entrevistas formais. Apresentando alto grau de
adesão e compromisso para com o projeto.
Na minha perspetiva, o ponto fulcral desta intervenção teve na
realização da entrevista pessoal informal, onde abri um canal de informação com
o atleta de forma espontânea e não organizada, permitindo o desenvolvimento de
uma melhoria do conhecimento pessoal do atleta, bem como das suas principais
motivações. Aqui encontra-se apenas um pequeno apanhado de um cenário possível,
onde o prazo temporal é curto. Neste tipo de conflitos um fator é muito
importante: o respeito pelo tempo e pelo espaço do atleta."
Caro Leitor,
Até Breve!
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