Boa tarde caro Leitor!
Comecei o ultimo artigo por falar no clássico e não consigo iniciar este de outra forma. Fui vê-lo ao vivo! Claro que não resisti, pois estes momentos são únicos para observar, identificar, mas acima de tudo sentir! Sentir o jogo e tudo o que o envolve.
Sentir o público e a sua ânsia para que o jogo começasse, indiferente ás condições climatéricas adversas, pois havia um motivo que era tão mais forte. O de ver a sua equipa a jogar... mas essencialmente de ver a sua equipa Ganhar. É para isto que a sociedade atual se orienta hoje em dia, para a vitória. Para o registo. Para o número. Para a dependência de algo que não se controla totalmente... o resultado! E que turbilhão de ambiente e emoção que transbordou o Estádio do Dragão. Adeptos dos dois clubes, activos e influentes na participação no jogo.
Passamos do Psicossocial, que envolve os adeptos e passamos para as duas equipas. Na minha opinião, duas equipas claramente orientadas para o sucesso. Com o objetivo bem definido, com estratégias bem definidas e com cada elemento a saber exactamente o que, e como deveria realizar a sua tarefa. Compromisso, superação, resiliência e coesão. Vi estas variáveis nas duas equipas durante todo o jogo.
Saliento só os últimos 20 minutos. FC. Porto em vantagem, a baixar linhas e a tentar apostar na transição ofensiva. Tudo bem, estratégia definida mas com alguma precipitação, talvez os níveis de ativação excessivos (stress) e a fadiga que a intensidade do jogo e do calendário provoca, tivesse afetado um pouco. No entanto, nesse período vi entre-ajuda, superação, resiliência e estratégia para obtenção do sucesso, com oportunidades e de facto com transições rápidas, porém nem sempre bem definidas. Já na defesa, vi dentes serrados e comunicação, muita comunicação organizacional dos seus lideres. Quanto ao Sporting, bloco subido, tentativa de condicionar o adversário logo após a perda e a nível comportamental, deram tudo, tentaram obter o sucesso e sair com os objetivos intactos. Poderiam ter baixado os níveis após a adversidade do segundo golo sofrido, mas ao invés, enalteceram competências essenciais para o sucesso. Compromisso, Superação, Coesão e luta perante adversidade, tudo isto se transformou em muita bola no ultimo terço ofensivo, bolas paradas e oportunidades de golo! Abriram espaços? Sim! Mas jogaram por um objetivo... que move o coletivo.
Isto tudo somado, transformou-se num fantástico jogo de futebol... orientado para a obtenção de sucesso e não para o evitar perder. E que fantástico é o desporto assim, quando objetivos, a estratégia e os papeis definidos apresentam o transfere quase sempre eficaz do treino para o jogo! Vá chega de análises e vamos para o nosso treino de hoje!
Objetivos. Só na análise comportamental que fiz sobre os últimos 20 minutos do jogo salientei várias vezes esta técnica. Sabemos de facto que ela deve ser utilizada, deve integrar o planeamento e ser direcionada para o grupo e para o atleta individualmente. Por isso esta técnica requer metodologia para que de facto tenha o impacto pretendido durante a época desportiva.
Vamos debruçar-nos sobre a literatura e perceber o que Weinberg and Gould (1996), nos dizem sobre as vantagens da integração da definição de objetivos no decorrer da época desportiva:
- Os objetivos direcionam a atenção em relação aos comportamentos e habilidades relevantes a serem executadas pelos atletas;
- Promovem e inspiram os esforços dos atletas no seu alcance - O tal compromisso!;
- Prolongam no tempo a perseverança dos atletas que os procuram alcançar;
- Estimulam o desenvolvimento de novas estratégias de aprendizagem - o atleta que define objetivos está mais predisposto para aderir a programas de treino complementares (artigo anterior), no sentido de ampliar as suas habilidades, pois esta melhoria fará com que ele se aproxime dos objetivos estipulados.
Antes de avançarmos para os princípios básicos e para os tipos de objetivos que podem ser integrados no planeamento anual de uma equipa, é essencial verificarmos alguns erros que são frequentes na definição desta técnica, sendo, esses erros, a maior parte das vezes, responsáveis pelo afastamento do sucesso no processo. Por isso na construção e definição dos objetivos é essencial evitar:
- Ausência de Definição de Objetivos de Performance Individual.
Para mim este é o principal erro na construção da definição de objetivos. Os objetivos de performance são metas que o treinador e a equipa/atleta definem com a finalidade de promoverem a melhoria da performance (ex: no Hóquei em Patins melhorar a percentagem de tiro exterior na baliza, de 57% para 70% em 2 meses, com a aprendizagem e consolidação de x comportamentos definidos pela equipa técnica). Este tipo de objetivos, faz com que os atletas adiram a sessões de treino complementares e direciona a atenção e pensamento para o que é importante executar no treino... atenção, sempre dentro do papel que tem dentro da tarefa da equipa!
Geralmente, o que acontece nas equipas é apresentarem apenas objetivos coletivos e de resultado (O nosso objetivo é ficar entre o quarto e sexto lugar e neste mês queremos vencer 2 dos 3 jogos), ou seja, orientam-se apenas para um factor que não controlam totalmente, influenciando e movendo os seus níveis emocionais de acordo com o sucesso ou insucesso do jogo! Será que não podemos ter tido um bom desempenho mesmo quando não alcançamos o resultado que queremos?? Fica a questão!
- Falha na Avaliação dos Objetivos e no seu ajuste
Por vezes, a palavra avaliação ainda apresenta uma conotação negativa, onde a exposição de quem é avaliado é tal que faz muitas vezes com que haja condicionamento por parte do atleta, ou a total ausência de aplicação por parte das equipas técnicas.
Porém, a avaliação deve ser vista como uma medida para percebermos se o processo está a ser eficaz, ou seja, se estamos a ir no caminho certo. Motivo pelo qual a avaliação deve ser sempre vista de uma forma positiva. Caso o programa não esteja a ir no caminho desejado, poderemos ajustar o objetivo; corrigir conteúdos do programa de treino construído; ou alterar a habilidade a trabalhar, escolhendo outra. Sempre dentro do método de avaliação correto: INCORPORAR, MELHORAR, CONSOLIDAR, ELIMINAR.
Por exemplo, o atleta "Fábio" encontra-se a melhorar a capacidade de eficácia no livre de 7 metros no Andebol, porém identificou-se que em contexto de jogo é essencial que ele controle melhor a respiração para baixar a ativação e ajudar como consequência a coordenação motora. Neste sentido, iremos incorporar uma técnica de relaxamento (desempenho) que o aproxime das percentagens definidas (resultado).
- Falha em estabelecer Objetivos Específicos
"Temos de melhorar no ataque... fazer mais golos! É o que está a faltar" Ok, certo, mas isso não é um objetivo, é um subjetivo. Aqui é importante responder á questão "como??" Respondendo a esta questão a equipa técnica terá logo ferramentas especificas para definir objetivos eficazes.
- Definir um Número de Objetivos Excessivos
Torna-se impossível trabalhar melhoria de atitudes, comportamentos e habilidades tendo vários objetivos ao mesmo tempo. Imaginem, "vamos aumentar a eficácia de finalização - Plano X; as bolas paradas: Plano Y e a reação após a perda da bola - Plano Z" Para os próximos dois microciclos temos estas metas.
Um número excessivo de metas conduz a equipa ou o atleta á dispersão, devido á instabilidade do número vasto de mestas existentes.
Bem, identificados que estão alguns erros frequentes e que afastam a definição dos objetivos do seu alcance, quais são alguns dos princípios básicos para estabelecer objetivos de forma eficaz?
1. Estabelecimento de objetivos específicos - Só este tipo de objetivos conseguem estabelecer mudanças de comportamento. No desporto há muito hábito de se referir "Temos de melhorar"; Boa, mas melhorar o quê? De que forma? As metas têm de ser especificas! Melhorar o contra-ataque? As bolas paradas? A reação após a perda?
2. Estabelecer objetivos difíceis mas realistas - Objetivos muito fáceis levam á acomodação do atleta e objetivos irrealistas afetam a auto-eficácia e promovem ansiedade. Para promover adesão, o atleta tem de sentir que há desafio mas que com algum controlo no seu alcance.
3. Objetivos por escrito - Escrever os objetivos e coloca-los num sitio visível, aumenta o compromisso e a adesão do atleta neste processo de melhoria da performance.
4. Desenvolvimento de um Plano de Ação - Desenvolver uma estratégia/programa de treino complementar, informar e incluir o atleta no processo. Desta forma, aumenta a estabilidade e adesão do atleta.
5. Avaliação e Feedback - O feedback é essencial para que os objetivos modifiquem de facto a performance e o comportamento. Já as avaliações, devem ser realizadas no momento da definição dos objetivos mas que continuem a ser consistentes, de modo a medir o grau de eficácia do programa de treinos. Um momento útil para a aplicação destas ferramentas, são as reuniões entre treinador e atleta (estratégia que irei abordar no futuro).
Após algumas estratégias a evitar e a aplicar no que diz respeito aos objetivos, vamos então verificar que tipos de objetivos existem, onde apresento alguns exemplos para que através deles os possam identificar e integrar nas fases da época correspondentes, pois cada contexto é diferente, tendo que existir sempre essa consideração.
- Objetivos Grupais de Resultado - "Esta época definimos a Europa. Queremos as competições europeias".
- Objetivos Grupais de Performance - " Equipa! Para melhorarmos o nosso jogo, temos de definir melhor as saídas para o contra-ataque. A nossa percentagem de eficácia está nos 75%. Temos de passar para os 85% no próximo mês - comportamentos chave: Passe limpo pela tabela; recepção e nessa fase tomada de decisão de acordo com os estímulos do jogo";
- Objetivos Individuais de Resultado - "Vamos definir um programa de treino complementar para esta época. Define um objetivo de Golos! 25? Ok. Vou construir um programa com o resto da equipa técnica. Vamos a isso!"
- Objetivos Individuais de Performance - "Para chegares aos 25 precisamos de melhorar o teu jogo posicional na área. Vamos treinar essa habilidade individualmente. E vamos também para um treino de concentração. Quero que aprendas a lidar melhor com um ou outro insucesso que possa acontecer no jogo. "
Considerações Finais: Vivemos actualmente num mundo onde o resultado é a prioridade, onde trabalhamos para o seu alcance e avaliamo-nos quase sempre em função da sua obtenção. Como reflexo do contexto social atual, o desporto e as suas características levam muitas equipas a promoverem total prioridade aos resultados! Normal, falando de alto rendimento, esse factor vem sempre associado. Porém, é essencial perceber que a competição apresenta variáveis que não são controláveis, como por exemplo, o adversário e a sua qualidade. Podemos preparar, antecipar os seus pontos fortes e explorar as suas fragilidades mas não o poderemos controlar. Definir só objetivos de resultado, faz com que nos avaliemos apenas em função dessa consequência, oscilando os nossos níveis de autoconfiança e estabilidade mediante o alcance ou não dessas metas.
Com este artigo, pretendi sensibilizar o leitor para a importância de uma metódica definição de objetivos. Procurei sempre destacar a definição de objetivos de desempenho... pois o nosso desempenho conseguimos controlar a 100%, avaliar, construir programas de treino e evoluir. Este aspeto traz uma maior sensação de controlo e estabilidade. Visto que, podemos ter perdido um jogo e ter tido um bom desempenho, como também podemos ter ganho um jogo e o desempenho estar longe do que queríamos!
Caro Leitor,
Até breve!
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