Boa tarde, caro Leitor!
Hoje o desafio passa por analisar um caso de um gigante clube sul-americano - O River Plate. Perceber o que o levou á descida de divisão no decorrer da época de 2011 e toda a adaptação a uma nova realidade que é ser um clube gigante adormecido desportiva e organizacionalmente numa primeira nacional B. Vamos analisar a liderança nas suas três dimensões: produtividade, ambiente de grupo e desenvolvimento individual e promover algumas sugestões que nessa altura a Psicologia do Desporto poderia ter desenvolvido. No sentido de promover uma avaliação e intervenção que devolvesse ao River Plate uma adaptação a uma nova realidade, onde tudo era diferente menos um aspeto... a grandeza histórica e social do clube!
Para isso recorro a um trabalho efetuado por mim, onde foi efetuado um enquadramento do estado do clube, desafiando-me a identificar as dimensões da liderança e possíveis sugestões a serem feitas.
Caro leitor entre nesta viagem sobre as Dimensões da Liderança e como o seu trabalho pode alinhar todo um projeto desportivo. Vamos!!
“O
River Plate caiu para a série B. A partida mais difícil para o River acabava de
começar. "É como quando um negócio está em situação crítica, ou acaba de
ser vendido. Você precisa se colocar diante da equipe e dar diretrizes claras,
enfatizando que eles sairão dessa situação desconfortável," disse Juan
Pablo Sanguinetti, consultor da firma de recursos humanos Whalecom.” É nesta
primeira citação do que se encontra todo o ponto nodal do trabalho
a desenvolver, ou seja, estamos perante um gigante histórico, não apenas da
America do Sul, mas também Mundial, com Valores, pertença e resultados que
fazem de si uma referência... teórica, apenas teórica, pois a sua realidade
atual está com estas componentes adormecidas, necessitando de um trabalho de
base para reerguer um Gigante do futebol mundial.
Nesta situação poderemos
salientar, que paralelamente às componentes sociológicas em cima referidas,
estamos também perante uma situação onde o próprio lider apresenta uma
habilidade em nada útil para o estado atual do clube, que é a disforia, havendo
portanto um défice de energia e ausência de soluções por parte deste para todo
o processo que se encontra dentro desta realidade, bem como a ausência de comunicação
do lider para com os atletas, no qual estes, começam a demonstrar desinteresse
no projeto, baixando os seus indices motivacionais e promovendo o abandono dos
mesmos do novo projeto River Plate.
Em jeito sumário de enquadramento,
ressalvamos três componentes principais que se encontram presentes neste caso:
- Ausência de Sentimento de Pertença,
- Depressão do Lider (ver o artigo do treino de emoções para treinadores)
- Ausência de comunicação do Lider para com os seus atletas.
A
liderança de alto rendimento apresenta, segundo a literatura 3 dimensões, que
se referem á magnitude, ao âmbito e à extensão de tarefas de um lider,
ajudando-o desta forma a organizar e esclarecer quais as suas tarefas no contacto
com a equipa no decorrer de uma época desportiva.
Assim sendo, as 3 dimensões são:
- produtividade;
- o ambiente de grupo;
- desenvolvimento individual.
Podemos
referir que a Produtividade caracteriza-se pelo nível final de performance que
uma equipa obtém, de acordo com os recursos que lhe são disponíveis. A
produtividade inclui sempre a performance e os resultados obtidos, numa
perspetiva complementar.
Como podem então os lideres trabalhar a produtividade
nas suas equipas? Através de três componentes essenciais para conduzir a equipa
à alta performance:
- Definição de Papeis;
- Objetivos;
- Reforço.
Os
papeis correspondem às funções que cada atleta terá de realizar dentro da
equipa, sendo que o mesmo deve ser explicado, expondo o que é esperado do
atleta e como este o poderá conseguir alcançar.
Quanto à definição de
objetivos, temos uma tendência clara de definir apenas objetivos de resultado,
o que acaba por ser um erro, uma vez que este tipo de objetivos não dependem
apenas da equipa para serem alcançados e promovem alguma instabilidade, pois a
direção da atenção encontra-se mais para o resultado do que para o desempenho/performance.
Desta forma, devem sempre ser definidos objetivos individuais e de grupo, sendo
os mesmos de desempenho e resultado.
Por fim, temos os reforços, ou seja, as
ações que são desempenhadas pelo lider com o principal objetivo de incentivar
ou modificar certos comportamentos exibidos pela equipa ou por alguns atletas,
sendo que devem variar entre gratificações ou punições mediante o que o lider
pretender trabalhar. Gratificações, são as ações que o lider implementa no
sentido de aumentar a probabilidade de acontecimento de um comportamento
desejado. Já as punições são aplicadas quando o lider pretende aumentar a
probabilidade de desaparecimento de um comportamento indesejado. Os lideres de
alta performance são aqueles que conseguem administrar o reforço de acordo com
o contexto, isto é, pela situação concreta.
O
ambiente de grupo é outra das dimensões da liderança de alta performance, que,
como nos diz literatura:
- acrescenta sustentabilidade à produtividade que foi alcançada anteriormente;
- estimula a recuperação da produtividade da equipa;
- fornece estabilidade;
- aumenta o sentimento de satisfação de cada atleta;
- promove o crescimento e o desenvolvimento dos membros da equipa;
- permite o desenvolvimento diário da equipa, sem conflitos significativos;
- estimula a participação e crescimento entre os membros da equipa;
- controla o sentimento de pertença e identificação à equipa.
Para
que o ambiente de grupo seja trabalhado com eficácia, temos de ter em
consideração 3 ideias centrais desta dimensão:
- Normas;
- Coesão social e Coesão de Tarefa;
- Comunicação com o Grupo.
As
normas são o metodo responsável pela estabilização de uma equipa,
caracterizando-se por comportamentos padrão que têm como objetivo moldar as
ações dos atletas. Para o estabelecimento das normas, é essencial que os
atletas tenham participação ativa, pois dessa forma, vão sentir-se parte da
decisão, aumentando o seu compromisso no cumprimento das mesmas, garantindo
também a imparcialidade do lider no processo.
Coesão
social e coesão de tarefa, é outra das ideias base da dimensão ambiente de
grupo. No contexto desportivo, existe muitas vezes o hábito em confundir, na
avaliação e intervenção estes dois tipos de coesão, englobando-os num só, sendo
esse um fator de erro que poderá promover lacunas na abordagem do lider no
decorrer da época perante a sua equipa.
A coesão social refere-se à qualidade
dos relacionamentos na equipa, e ao nivel de camaradagem e amizade dos seus
membros.
Já a coesão de tarefa caracteriza-se pela interdependencia e
inter-relação entre os membros da equipa, funcionando no sentido da obtenção
dos resultados por parte da equipa. Podemos dizer que este tipo de coesão está
diretamente ligada á produtividade da equipa e que a coesão de tarefa influencía
com um maior peso a coesão social que o inverso.
O
treino da comunicação é a última das ideias centrais da dimensão ambiente de
grupo, sendo essencial integrá-la nas duas ideias anteriormente exploradas,
pois a melhor atmosfera grupal é alcançada sempre, através de um trabalho de
comunicação adequado entre o lider e a sua equipa.
Neste sentido, vamos abordar
duas ferramentas que poderão ser bastante úteis para os lideres de alta
performance no contacto com os seus atletas:
- O modelo Sanduiche de Criticas
- o Confronto.
O Sanduiche de Criticas permite ao lider fornecer feedback
construtivo através de 3 elementos sequenciais:
1. Uma situação positiva
(enaltecer um aspeto em que o atleta esteve bem);
2. Instruções elaboradas em relação ao futuro (fornecer ferramentas
obejtivas e práticas de melhoria para que o atleta possa melhorar a sua
performance ou conduta dentro da equipa);
3. Um elogio (Global e abrangente às
suas qualidade ou performance). Esta técnica promove uma maior aceitação da
critica por parte do atleta, dado que abrimos um canal de comunicação positivo
e aberto para com o mesmo.
A segunda ferramenta é o confronto. Torna-se
portanto essencial destacar que o confronto não consiste em combate de ideias,
mas sim numa discussão que acumula valor de um modo construtivo, a base central
é sempre que o confronto busca a solução para um conflito. O que poderá fazer o
lider em caso de confronto? Como nos diz a literatura, o lider deve comunicar
que a relação com a outra pessoa é valorizada, procedendo sempre com calma e
pensar dobre o que se deseja dizer, tentando compreender o posicionamento do
outro, ouvindo atentamente o que a outra pessoa tenta comunicar. Estas são as
ideias base da dimensão ambiente de grupo, que cada vez menos deve ser deixada
para o senso comum no trabalho do lider. Planeamento e intervenção nesta área é
um propulsor forte para a construção de uma equipa de alto rendimento.
A última dimensão na liderança de alto rendimento é o
desenvolvimento individual. Ou seja, após todo o trabalho estruturado e
desenvolvido pelo lider na construção de uma equipa de alta performance surge
uma dimensão essencial para a motivação a medio-longo prazo nos atletas, que é
o desenvolvimento individual, tendo o treinador um papel fulcral na sua
identificação e desenvolvimento.
Para este processo ser bem conduzido é
essencial que o lider desenvolva competencias para percepcionar a diferença
entre participação (participação activa dos atletas nas tarefas e conteúdos
propostos) e adesão (participação nas tarefas com identificação e sentimento de
pertença), sendo essencial o lider promover sempre a direção da adesão. Outro
fator importante é a diferença entre visão e discurso motivacional.
A visão
deve ser definida juntamente e com a participação do atleta, definindo metas de
carreira, direcionando o seu trajeto nesse sentido, tendo como consequência uma
motivação por parte do atleta de médio-longo prazo. Já o discurso motivacional
tem a ver com uma abordagem unidirecional com o atleta procurando um impacto
imediato ou a curto prazo, não sendo este um metodo que tenha continuidade
temporal.
Após
esta viagem pelo enquadramento teórico sobre as dimensões da liderança, vamos então ao caso prático
proposto “O caso RIVER” percebendo qual a abordagem de liderança que considero
mais ajustada bem como fornecer algumas sugestões para que o River Plate tenha
condições para voltar a ser um Gigante atual.
“um grande gigante a ser cuidado, e que
foi desgastado” – Carga
de forte expectativa externa perante todo o Palmarés deste Clube, promotora de
stress na realidade atual
"clientes" que são tão grandes
quanto os torcedores que eles demandam, e uma equipe de trabalho sob pressão
extrema.” – Pressão
pelo estado atual e pelas expectativas de rapido regressão nivel ao qual o
exterior está habituado
"Como técnico, ele tinha que
incentivar seu time e tirá-los do buraco, ao invés de deixar que eles o vissem
chorar” – Estado
de disforia do lider, com défice de energia e sem soluções e estabilidade para
estruturar e regular estratégias atuais e de futuro.
"Há uma insuficiência por parte da
liderança e na orientação ao cuidado com a marca de sua principal
atividade" – Descuido
para como a Marca promovendo descrédito e ausencia de sentimento de pertença
interno e externo.
"Se uma organização investe suas
expectativas na resolução de uma crise por meninos de 19 anos sem
acompanhamento, então ela possui sérias falhas. Por mais habilidosos que eles
sejam com a bola, eles estão em um estágio do desenvolvimento que torna
impossível que eles façam algo assim" – Direcionar responsabilidades para
os jovens atletas, privando-se de uma clara e vital competencia da liderança, a
prospetiva situacional: análise não só do estado atual da equipa como também de
todo o contexto interno e externo em que a mesma se encontra, onde o lider deve
apresentar uma posição mais abrangente.
Estas
são as citações que mais destaco neste caso, e juntamente com elas ressalvo
algumas das componentes presentes e que poderão estar a impedir uma
estabilização e organização num processo de adaptação a uma nova realidade e a
todos os ajustes que a mesma mudança deve envolver para que se construam bases
fortes para a promoção do alto desempenho desportivo. Este trabalho jamais
poderia ser feito como perspetiva bombeiro, ou seja, tentando rapidamente
resolver o problema do Clube. Mas sim num trabalho com Avaliação Inicial,
levantamento de necessidades e criação de um Programa de intervenção de longo,
médio e curto prazo.
Neste sentido, lendo destaco as seguintes características/sugestões essenciais para e liderança neste caso especifico.
a)-
Uma equipa vencedora é muito mais do que a soma dos seus individuos. É
essencialmente partilhar valores, como ser generoso, como transmitir confiança;
b)
Ter como base a confiança e a honestidade. Promover a auto-critica;
c)
No primeiro dia de uma época desprotiva não falamos de táticas nem de estratégias.
Falo sim de respeito (não para com a instituição, mas sim entre os membros da
equipa e para com as pessoas que trabalham diretamente com os atletas no dia a
dia), valores e confiança;
d) O
trabalho do técnico é descobrir pequenas motivações nos seus atletas para que
eles possam encontram essas motivações na equipa;
e)
Promoção do diálogo-positivo;
f)
Uma equipa é um organismo vivo, que compartilha experiencias, situações e
valores;
Estas características/sugestões destacam-se por uma prioridade dada à dimensão atmosfera grupal, abrangendo também as restantes dimensões da liderança do alto
desempenho, Produtividade e desenvolvimento individual, criando um clima ajustado a um potencial de produtividade e estabilidade de que o River Plate
necessitaria para a normalização de um projeto real de crescimento. Destaco o
valor que esta alternativa de liderança promove nos valores, confiança e
honestidade, caracterizando-se como os pilares para a construção de uma equipa
vencedora. A promoção aos valores ressalva a importancia que este lider dá ao
estabelecimento de normas no grupo.
Destaco também aqui a promoção do diálogo-positivo,
essencial para o clima motivacional do grupo, estando associada à atmosfera
grupal.
Ressalvo também o cuidado a ter com o desenvolvimento individual, onde
este lider procura as pequenas motivações dos seus atletas no sentido de
ajustar um papel (produtividade) e uma visão de carreira dentro da equipa
(desenvolvimento individual), onde neste caso, os atletas jovens do River
Plates estariam ausentes destas estrategias, dado o baixo grau de
comprometimento e motivação. Estas seriam estrategias óptimas para
direcionar/alinhar os atletas.
Por
fim, deixo algumas sugestões que daria á equipa técnica, estando claro está, integrado neste contexto:
PRODUTIVIDADE:
-
Definição de objetivos de resultado e performance de grupo e individuais alinhados com a nova realidade– os mesmos
teriam de seguir as normas corretas da definição de objetivos. Este passo
serviria para alinhar e direcionar os atletas e a equipa em metas realistas, ambiciosas
e concretas,
-
Definição de Papeis para cada atleta, tendo o mesmo, total conhecimento
objetivo da sua função dentro do grupo, sentido-se parte ativa e integrante de
todo o processo;
-
Estrategias de reforço (punição e gratificação), para além deste processo de
reforço aproximar os comportamentos do pretendido, aproxima o lider do processo
e dos atletas, sendo uma ausencia neste caso do river.
ATMOSFERA
GRUPAL
-
Definição de normas onde os atletas teriam uma participação totalmente ativa,
as normas estariam direcionadas aos objetivos de resultado, incluindo valores.
Este processo aumenta o sentimento de pertença - ausente nesta fase - para além de promover a estabilização;
DESENVOLVIMENTO
INDIVIDUAL
-
Aqui está uma questão central, os atletas devem estar comprometidos e motivados
no projeto em que se encontram inseridos, tendo uma visão de medio-longo prazo.
Neste sentido, é essencial o lider promover esta visão com o atleta (o atleta
participa na visão de carreira), no sentido de promover o seu crescimento dentro
da equipa. Mantendo-o motivado, comprometido e com sensação de pertança para
com o projeto.
Caro leitor,
Até Breve!
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