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Preparamos o Jogo. Mas Será que nos Preparamos para o Jogo?



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Olá caro leitor,


O aproximar da ciência ao desporto fez com que as variáveis que envolvem a preparação do jogo fossem cada vez mais alvo de observação, análise, recolha e monitorização. A ciência sem sombra de dúvida desenvolveu o contexto desportivo e toda a forma como nele se trabalha, auxiliando as equipas técnicas quer na preparação do plano de competição de um contexto específico (o jogo contra o adversário X), quer o desenvolvimento das habilidades e comportamentos dos atletas e da produtividade da equipa.



Para além da recolha de informação tão útil para o processo de construção do treino e preparação do jogo, temos o trabalho transdisciplinar. O tal trabalho onde várias áreas da ciência (Nutrição, Fisioterapia, Psicologia…), incorporam as suas valências e desenvolvem programas trabalho complementares extremamente uteis para os acontecimentos de uma época desportiva.

As ferramentas que estas áreas associadas ao treino incorporam são de facto uma mais valia, que nem todos os clubes têm incorporado no seu quadro de recursos humanos. Não discutindo os motivos neste artigo, podemos rapidamente perceber que de alguma forma (formações, cursos de treinadores, etc.) temos contacto com elas e com os seus principais conteúdos. Assim sendo, vamos canalizar todo este enquadramento para o contexto de competição, na sua preparação e análise, e neste caso de que forma é que, numa perspetiva global a Psicologia do Desporto pode ajudar a preparamo-nos para o jogo e não apenas a preparar o jogo.

Frequentemente, quando questionamos um treinador sobre como “preparaste o teu jogo”, o enfoque é quase sempre externo, dando total direção ao plano de jogo da equipa. Para a estratégia a adotar, para os pontos fortes e frágeis do adversário e como a sua equipa os pode explorar e para a antecipação de algumas condicionantes que possam surgir. De facto, o locus de controlo é interno, ou seja, o foco está naquilo que a equipa controla. No entanto, falta aqui um pormenor essencial:

- Como é que será o MEU Plano de Jogo?

- Como é que “eu” treinador me devo preparar para permitir que os meus atletas exponham a sua qualidade de forma estável?

 - Que cuidado devo ter com a comunicação para os jogadores?

 - Que impacto está a ter este jogo para mim enquanto treinador? E que impacto deveria estar a ter?

- Estou a comparar a minha equipa com o adversário e isso está a oscilar a minha ativação? Ou estou só focado no que controlo a 100% independentemente do contexto?

O treinador deve sempre ter presente que o impacto que tem para com a sua equipa nunca é NEUTRO, ou é POSITIVO ou NEGATIVO. Ou promove estímulos apetitivos (direcionados para o sucesso), ou negativos (promovendo condicionamento). Por isto é essencial o treinador desenvolver estratégias que promovam o seu auto-conhecimento perante os seus pensamentos, emoções e comportamentos no contexto competitivo, e que influência estes podem ter tanto na sua regulação emocional, como no impacto perante os atletas.

Esta preparação individual permite-nos uma maior identificação com os cenários competitivos que nos surgem (a importância de um jogo… ou como lidar com um microciclo de 3 jogos, onde há risco claro de relaxamento num deles), ajustar o comportamento individual e o sistema de feedbacks com a equipa no sentido de promover permanentemente a aplicação do plano de jogo, com a intensidade pretendida. Porém, para esta aplicação do plano de jogo por parte da equipa… é essencial pensarmos, ou elaborarmos o nosso próprio plano!

Tendo como principio, que um treinador, para ser um líder de regulação emocional para com a sua equipa, deve:

·        Procurar permanentemente a gestão de ideias e emoções (ex: uma atleta refere que o jogo vai ser fácil pois o adversário não ganha há um mês. Esse pensamento indica uma orientação motivacional para o ego, para a comparação. Essa comparação pode levar o atleta/equipa e níveis de ativação baixos, experienciando níveis de relaxamento no jogo. É essencial o treinador regular a orientação para a tarefa, para o que controla e demonstrando a visão de futuro (objetivos) que move e direciona a equipa… tanto na identidade (plano e tarefas), como no resultado ( o que pretendem alcançar no final da época);



·        Promover o Crescimento e Evolução (apresentar gosto pelo crescimento da equipa e reforçar de forma especifica os conteúdos que estão a permitir a equipa evoluir);



·        Dar enfoque no desempenho (o que podemos controlar na competição? Os nossos pensamentos, as nossas emoções e a aplicação das nossas tarefas, do nosso plano de jogo. Estes são os aspetos que controlamos e que nos dão estabilidade pois treinamos permanentemente estes comportamentos para os podermos aplicar. Direcionar a preleção para o ganhar ou perder… para o total ou quase total enfoque no resultado promove instabilidade, pois, o ganhar ou perder envolvem, também, variáveis que não conseguimos controlar – Adversário, condições climatéricas, condições físicas, decisões arbitrais… Saber escolher os estímulos onde vamos direcionar a nossa atenção é a base para a regulação não só do treinador, mas na sua influência no contacto com a equipa;



·        O Erro como ferramenta de aprendizagem (identificar o erro como um aspeto e oportunidade de crescimento da equipa no futuro é essencial para gerar estímulos apetitivos e não condicionantes. Outro aspeto essencial é, antes do jogo, na comparação com jogos anteriores, selecionar sempre que possível os eventos positivos, que extraiam percepções de autoeficácia na equipa);



·        Procurar Desafios para si e para a própria equipa (um treinador que disfruta do que faz e que apresenta como filosofia a permanente aprendizagem procura sempre evoluir, tanto a si próprio como a equipa. E o treino e o jogo são os momentos ideias para essa aquisição e exposição.)



Antes de sermos atletas e treinadores somos Homens. Quando atuamos no nosso contexto é o treinador que está no Homem, que observa, antecipa e prepara o seu contexto (equipa) para a atuação no jogo. Para que este processo seja mais completo torna-se essencial o treinador pensar como ele próprio está a pensar, sentir e que comportamentos (verbais, não-verbais, e o próprio tom) deverá aplicar no jogo, tendo em consideração o seu enquadramento, objetivos e plano do jogo. Identificando se estes são de influência positiva ou negativa para o rendimento da sua equipa.
A prioridade deve estar na proposta de plano que desenvolvemos, mas também em nós próprios, pois é essa procura pela regulação emocional e sensação de controlo que irá permitir gerir os pensamentos, emoções e ações de forma eficaz! 
Quantos de nós, treinadores, já perguntou para si mesmo, na chegada ao local de competição… " Como me estou a sentir para hoje?".
Caro Leitor,
Até breve.




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