Produzir, executar e render, são palavras constantemente presentes no quotidiano da sociedade com uma exigência imediatista como a atual. Sabemos as tarefas que temos para desenvolver, recorremos aos nossos conhecimentos, competências, atitudes e, desempenhamos o nosso papel. Em qualquer contexto passam-nos muito a ideia da produtividade, o que nos leva a direcionar a nossa ação essencialmente para esse exato momento… o da ação!
Aquela lógica na preocupação em preparar para a ação (preparar para jogar) e no momento da ação em si (o jogo). Só que aqui, falta um momento importante, o momento posterior! que tempo damos a essa fase? E que preocupação temos para que esta seja uma fase de identificação e crescimento do atleta e da equipa?
Neste pensamento, mais uma vez, o desporto integra-se na lógica da sociedade, sofrendo influências do processo educativo, onde, o "como ensinar" tem uma prevalência significativa ao "como aprender". Preocupamo-nos de facto muito sobre como podemos ensinar os nossos atletas a melhorar o seu conhecimento, atitudes e competências, mas será esta preocupação a prioritária?
Talvez se a prioridade fosse "como poderá o atleta aprender de forma mais eficaz? Como poderei eu colaborar para estimular nele as competências necessárias para expor as suas habilidades?".
Estas são questões que nos encaminham para a empatia, uma das características essenciais para um profissional do desporto. O tal saber-se colocar na posição do atleta, perceber os seus pensamentos e emoções e aí sim, desenvolver, acrescentar, eliminar e manter comportamentos. Possibilitando a criação desses momentos onde o ser humano assume total prioridade, sendo o atleta uma representação do individuo.
Nesta lógica relacional, temos o fator tempo. Sabemos que o tempo de contacto, na maior parte das realidades é curto. Temos a hora do treino e pouco há para lá disso. Porém, saber explorar, priorizar e rentabilizar o tempo disponível é essencial. Tendo em consideração que as 3 principais funções de um treinador é desenvolver produtividade, ambiente de grupo e visão de futuro individual, torna-se determinante a abordagem individual, tendo em conta as necessidades e especificidades de cada um, complementando com a coletiva, claro. E, no tempo disponível, temos de integrar estes momentos para que possamos, junto dos atletas desenvolver essencialmente 3 aspetos:
- Criação e Desenvolvimento de um Projeto Individual dentro do Projeto Coletivo;
- Auto-Conhecimento;
- Auto-Reflexão.
O que pode então afastar-nos das dinâmicas em cima salientadas? A tal generalização dos acontecimentos, onde um dos fatores para a sua utilização é, a ausência de tempo despendido para refletir, tanto connosco como com os nossos atletas acerca de um determinado tema.
O que é isto da Generalização do Rendimento? Respondo com citações práticas tanto de atletas como de treinadores, no contexto pós-jogo (dia seguinte ao jogo).
" Bem, penso que no geral fiz um bom jogo."
"Hoje acho que não estive tão bem."
" Senti a equipa bem, ganhámos… é o que interessa."
Onde estão os factos e os comportamentos no decorrer do continuum do jogo? Onde está a objetividade que nos fará identificar o que fizemos bem e o que temos de ajustar? Independentemente da consequência do nosso desempenho (resultado), é essencial desenvolvermos uma análise detalhada aos comportamentos desenvolvidos dentro do campo, para extrairmos daí percepção de competência de ações eficazes e indicadores claros e objetivos que nos auxiliem no processo de melhoria da filosofia e modelo de jogo.
E é nesta auto-reflexão dos treinadores e posteriormente na estimulação destes momentos em contexto individual e grupal com os atletas que se desenvolvem estas competências, ajudando e direcionando os atletas desde idades mais jovens a desenvolverem capacidade de reflexão e análise comportamental, que lhes permita ter indicadores claros de eficácia e melhoria, que vão muito para lá de um simples "Joguei bem… marquei 1 golo."
A generalização, ajuda-nos por vezes a camuflar um aspeto que é essencial para a melhoria das nossas capacidades… a identificação do erro. Não existe melhor indicador que este para percebermos em que aspetos temos a melhorar e como o poderemos fazer. Porém, em vez de procurarmos pensar e encontrar pistas para estes aspetos essenciais, tentamos (por vezes) generalizar, e acabamos por nos afastar, da ferramenta mais eficaz da melhoria das nossas capacidades.
Cabe a nós profissionais em Psicologia do Desporto, treinadores e demais agentes, promover uma cultura interna positiva e construtiva acerca destes momentos de análise e reflexão, pois estaremos a estimular nos nossos atletas:
- Sensações de competência: Perceber os indicadores de sucesso (ex: posicionamento defensivo e saída em transição); e de melhoria (ex: identificar o porquê dos níveis de ativação do atleta, após o intervalo do jogo estar abaixo do ideal e perceber que estratégias podem ser desenvolvidas para o próprio reativar eficazmente);
- Autonomia: Desenvolver de forma autónoma e factual uma análise ao desempenho no continuum do jogo. Promovendo desta forma o autoconhecimento e autorreflexão, essenciais para qualquer fase da carreira desportiva, sendo natural, com esta abordagem, um aumento dos níveis de autonomia com o decorrer dos anos de prática.
Todos esses aspetos devem apresentar como pano de fundo o "nosso jogo" e a forma como "nós jogamos". Incidindo sobre os nossos comportamentos, tarefas e papeis dentro da dinâmica coletiva.
Os aspetos referidos são os que conseguimos controlar… e já que não conseguimos controlar todos os aspetos que envolvem um jogo, porque não, gastarmos energias e o tempo que temos disponível apenas nestes, visto que são os que promovem, em nós, maior estabilidade?
Caro leitor,
Até breve.
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