Olá caro leitor!
Comecei esta semana com um género de lançamento sobre a importância do trabalho do ambiente de grupo numa equipa desportiva. Percebe-se que para além dos aspetos associados ao treino técnico e tático - tanto na perspetiva coletiva, quanto individual - onde o foco está na produtividade da equipa, torna-se essencial o staff de uma equipa técnica trabalhar todo o processo que envolve a construção do grupo.
Esse trabalho tem como principal objetivo dar suporte á produtividade da equipa, não a colocando em patamares de instabilidade que por vezes afetam o rendimento não por falta de coordenação, mas sim por falta de estabilidade. Estamos a falar de questões como, conflitos internos, falta de alinhamento nos objetivos individuais, a não aceitação de papeis definidos, ou até mesmo a colocação dos objetivos individuais como prioridade relativamente ao alinhamento de metas coletivas.
É também, com este trabalho de promoção de ambiente de grupo favorável que no decorrer da época o staff técnico deve "lutar" para que realmente "o todo seja muito mais que a soma das partes!".
Para relembrar, podemos então voltar a destacar as três dimensões que contribuem para que "o todo seja mais forte que a soma das parte!":
- Produtividade - Responsável por promover rendimento desportivo;
- Ambiente de Grupo - Responsável por dar estabilidade e alinhamento á equipa;
- Desenvolvimento individual - Responsável por dar uma visão de carreira ao atleta;
No artigo anterior, começamos por falar de uma das ferramentas essenciais para promover o ambiente de grupo - As normas! Sendo estas, reguladoras de comportamentos e valores de um grupo. Atenção para promover estabilidade e compromisso, estas normas deverão se estabelecidas em conjunto com os atletas e devem ser orientadas para os objetivos desportivos, e nunca para ações de caráter pessoal, onde este contexto de ação não exerce influência.
Falámos de normas e falta-nos falar de mais duas ações essenciais para o ambiente de grupo:
- Coesão de tarefa e coesão social;
- Comunicação;
Coesão de tarefa e coesão social
Weinberg e Gould (1996) definem coesão como o campo total de forças que atuam sobre os seus elementos para que eles se mantenham no grupo. Em traços gerais podemos dizer que é o impulso/alinhamento da equipa na direção do objetivo a que todos se propuseram no inicio da época.
Porém, existe ainda algum desconhecimento sobre esta questão da coesão que por vezes condiciona o trabalho desta habilidade:
- Grande parte das pessoas não estão identificadas com os diferentes tipos de coesão;
- Misturam coesão de tarefa e social;
- A ausência de coesão é muito mais percetível que a sua presença;
- Ausência de conhecimento para estimular coesão;
- As pessoais não estão cientes do impacto da coesão no rendimento desportivo.
Algo essencial é distinguir desde logo a coesão social da coesão de tarefa.
A coesão social é a mais conhecida e procurada pela equipa técnica. Tem a ver com o lado social, o lado da relações humanas. Um lado mais afetivo e relacional. Associado ao trabalho desta componente, estão os tradicionais jantares de equipa, com o objetivo de fortalecer o grupo!
Já a coesão de tarefa tem a ver com a relação entre os membros da equipa, dentro da tarefa, dentro do terreno, nas ações de jogo, no sentido do alcance dos objetivos da equipa. Trabalho como Modelo de Jogo, objetivos de resultado e de performance, papeis definidos e aceites, são a base para este tipo de coesão.
Por vezes fala-se da importância da coesão social e das relações humanas fora do contexto de prática. Porém, uma equipa com elevada coesão social e reduzida coesão de tarefa vai apresentar quebras de rendimento desportivo. Já uma equipa com elevada coesão de tarefa e reduzida coesão social irá manter os seus índices de produtividade!
Não necessitamos de ser os melhores amigos, para formarmos uma equipa que produza rendimento. Necessitamos sim de estar alinhados e organizados, sentido que cada um tem uma função útil e especifica dentro da equipa, onde existe... interdependência... estes sim são os fatores fundamentais!
Que ferramentas gerais poderão ser recomendadas ao treinador para criar níveis de coesão de social e tarefa mais elevados?
- Definir os papeis individuais de forma honesta e frontal;
- Esclarecer a expectativas com cada membro da equipa, sendo estas ajustadas á realidade;
- Apresentar e envolver a equipa no desenvolvimento das normas de grupo, de uma forma clara;
- Recompensar os comportamentos que visam o desenvolvimento do grupo (entreajuda dentro do campo, ou uma ação social que vá ao encontro dos valores do grupo);
- Recompensar o respeito aos valores da equipa (destacar verbal - em palestra; ou comportamentalmente o atleta ou os atletas que defendem estes valores)
- Manter abertos os canais de comunicação com cada atleta e com a equipa (esta abertura facilitara todo o trabalho no decorrer da época desportiva);
- Desenvolver atividades fora do âmbito do trabalho.
O Treino da Comunicação
Como poderá o treinador trabalhar o rendimento da equipa e a sua estabilidade, sem ter como fundamento base os aspetos da comunicação? Estamos a abordar um trabalho que visa influenciar, aproximar, antecipar e direcionar. Tudo isto se faz com uma base... a comunicação!
Deste aspeto não foge á regra o Ambiente de Grupo! É essencial o treinador reunir um conjunto de habilidades comunicacionais para manter as vias de comunicação abertas. Ausentes de barreiras ou constrangimentos.
Qual o fator mais importante para a manutenção dos canais de comunicação abertos na relação treinador-atleta, treinador-equipa? Caballo (2010), indica-nos a que eu considero de destaque, onde a minha experiencia na pratica me leva a concluir que sem esta característica o distanciamento e a ausência de vinculo começa a criar-se... falamos da HONESTIDADE!
Outro aspeto que é essencial o treinador ou a equipa técnica debruçar-se é sobre a qualidade dos conteúdos da comunicação. As grande equipas em contexto de tarefa - e aqui estamos a falar de palestras, sessões de vídeo, reuniões de grupo ou individuais, momentos de instrução ou avaliação - falam e discutem sobre os seus objetivos, tanto de resultado como de performance! São orientados e direcionados para o rendimento desportivo!
Em muitas formações de coaching e de Psicologia do Desporto, já devem certamente ter ouvido falar do modelo Sanduiche. Este modelo visa promover uma aproximação e empatia com o atleta mesmo quando o contexto é de critica. Fazendo com que este a aceite melhor e procure a sua melhoria. Podemos dividir este momento de comunicação em três fases:
Vamos pensar no Hóquei em Patins. O jogador é substituído, o treinador dá um tempo para ele se recompor física e mentalmente, vai junto a ele com o objetivo de o corrigir no momento da transição ofensiva. Para que o atleta aceite melhor a mensagem e promova esta ligação positiva com o treinador, pode-se fazer o seguinte:
- Feedback de um acontecimento positivo ("Defendeste bem o gajo... próximo e a condicionar os movimentos interiores dele... mantém-se junto dele. Bem!)
- Feedback Corretivo (Atenção ás saídas em transição, recuperaste bem a bola mas puseste sempre a bola para a tabela contraria... joga mais simples... tabela mais próxima!)
- Elogio Geral ( Bom jogo... Gajo não te ganha uma bola!)
Outra ação em que o treinador deve estar preparado no que diz respeito á comunicação é na sua relação com os conflitos que naturalmente surgem durante uma época desportiva. Nessas situações que é necessário existir confronto, deixo aqui algumas linhas gerais que o treinador deve ter em consideração para que as linhas de comunicação se mantenham disponíveis:
- Falar sempre que a opinião do atleta é respeitada e valorizada por si;
- Tentar agir sempre com calma, no sentido de envolver e não de criar rotura. Aproveitando para pensar nas palavras que vai dizer;
- Tentar criar empatia e fazer o efeito de espelho. Tentar perceber a posição da outra pessoa. (Pensem num atleta vosso insatisfeito por não jogar);
- Utilizar a ferramenta mais importante da comunicação. A escuta! Ouvir o que o atleta tenta comunicar.
Caro leitor.
Até breve
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