Olá caro leitor!
Hoje vou debruçar a atenção sobre a segunda parte do artigo que engloba a concentração. Com a primeira abordagem ao tema, pretendi sensibilizar que por vezes esta habilidade é bem mais falada do que treinada, vemos conferências de imprensa onde treinadores justificam os fracassos por momentos de desconcentração no decorrer do jogo, onde devido a fatores de caráter emocional, o plano de jogo definido acabou por não ser aplicado com a produtividade pretendida.
Ressalvo aqui apenas um exemplo. Recentemente, ao analisar uma conferência de imprensa pós-jogo de um treinador de uma modalidade coletiva, destaco a seguinte citação do próprio, "O adversário causou-nos muitas dificuldades, demorámos a adaptar á estratégia que traziam e acabaram por aproveitar isso com golos! Ajustámos, tranquilizámos mas o momento do jogo foi aquela má decisão do árbitro. Descontrolámos emocionalmente e nunca mais conseguimos jogar o nosso jogo!"
Aqui está uma justificação clara de que uma decisão de um estimulo presente no jogo (árbitro), provocou um conjunto de emoções, sendo as prioritárias a depressão e raiva, que condicionaram os momentos seguintes. Isto, quando a equipa ainda estava dentro do jogo, e com possibilidades de alcançar a vitória.
O treinador tem razão na análise? A resposta é sim, vi o jogo e também avaliei exactamente da mesma forma! Esse estimulo, que deve ser considerado irrelevante tornou-se o foco externo, e daí surgiram todas as emoções - raiva e depressão, que condicionaram toda a tarefa seguinte. Agora pergunta-me o leitor. Qual a estratégia? A estratégia é sempre direcionar para estímulos importantes do jogo - bola, colegas e plano de jogo! Como digo aos treinadores - Antecipar e direcionar para o que é relevante naquele cenário de jogo.
Assim sendo, como se trabalha isto da concentração?
Pode-se integrar no treino?
Fora do treino, posso treinar isto?
Trabalha-se individualmente com os atletas?
O treinador também pode treinar esta habilidade para si?
Claro que de uma forma indireta, todas as unidades de treino direcionam a atenção dos nossos atletas para os conteúdos propostos. Porém esquecemo-nos muitas vezes que essa direção é limitada no tempo - duração dos exercícios - pela própria história emocional do treino - que condiciona a direção da atenção - e no espaço - o conjunto de estímulos presentes no local de treino são promotores de concentração ou desconcentração. O importante aqui é o atleta saber identificar os estímulos internos (pensamentos) e externos (objetos) que são favoráveis ao seu rendimento desportivo.
Para avançarmos ao contexto prático deste tema temos de ter bem presentes as 3 bases que nos ajudarão a identificar e treinar a concentração:
- A direção da atenção -
Interna (direcionada para os pensamentos e sentimentos dos atletas, relativamente aos momentos e história do treino/jogo) e externa (direcionada para os objetos que os atletas vão encontrar no local de prática desportiva - bola, colegas, adversários, adeptos e ruídos externos);
- A amplitude da concentração -
O jogo apresenta um conjunto de momentos, histórias e frações. Os atletas para estarem concentrados nas suas tarefas, têm de selecionar os estímulos de acordo com a amplitude. Podendo esta ser estreita ou ampla.
Estreita, caso o momento do jogo seja uma bola parada, ou o primeiro momento da transição ofensiva, onde o número de estímulos a selecionar do meio é mais reduzido (Um penalti no futebol, os estímulos importantes são a bola a baliza e o som do apito do árbitro).
Estreita, caso o momento do jogo seja uma bola parada, ou o primeiro momento da transição ofensiva, onde o número de estímulos a selecionar do meio é mais reduzido (Um penalti no futebol, os estímulos importantes são a bola a baliza e o som do apito do árbitro).
Já no momento defensivo, onde a equipa adversária está em ataque organizado, o número de estímulos que o atleta tem de selecionar como relevantes é maior (adversário direto, o seu posicionamento, bola, colegas). Sendo importante aqui o atleta perceber em que momento do jogo está para ajustar a amplitude da concentração para o adequado;
- Ter em conta a "linha do tempo"
Os acontecimentos do jogo e os seus cenários de vantagem, desvantagem, inicio de jogo, últimos minutos, golo falhado, cartões, decisões arbitrais, entre outras, apresentam sempre um risco - devido á necessidade permanente do atleta se adaptar ao meio e ao cenário atual - dos pensamentos/emoções ficarem presos em acontecimentos que já decorreram, afetando a sua autoestima, confiança e como consequência aumentar a probabilidade de desconcentração do momento do jogo que se encontra a decorrer.
Por outro lado temos as dúvidas e questões inerentes ao atleta e mesmo o treinador em fases anteriores ao jogo. Nesses momento por vezes levantam-se interrogações como "Estarei capaz?"; "hoje temos não podemos perder, mas será que nos preparámos bem"; "Eles são fortes... não sei se estaremos á altura!" Este tipo de pensamentos projetam-nos para o futuro e criam-nos dúvida, aumentando os níveis de ansiedade e insegurança para o jogo. Por fim temos o pensamento presente, onde no decorrer do jogo temos o nosso pensamento e olhar direcionados para o que é essencial... plano e estímulos do jogo. Passado - Presente - Futuro. Estão sempre presentes no jogo. Salientar que o treino da concentração deve sempre dar enfoque á direção do pensamento para o presente, sendo este sinónimo de estabilidade.
Que ferramentas poderemos então utilizar para treinar a concentração, tanto em atletas como treinadores?
Antes de destacar algumas estratégias práticas. Destaco que as mesmas apresentam um carácter global, sendo técnicas gerais. Torna-se então essencial perceber sempre que cada atletas tem as suas necessidades e que cada caso é um caso, tendo as mesmas sempre de ser ajustadas e adaptadas ao contexto individual. Destaco também a importância total da presença de um Profissional em Psicologia do Desporto pois todo este trabalho apresenta um programa metodológico com fases para educação, aquisição e consolidação desta habilidade.
- Aprender a mudar a atenção: Este exercício vai ao encontro do treino da amplitude (ampla ou estreita) e direção (externa ou interna) que abordei em cima. Podemos fazer este exercício de olhos fechados e numa posição confortável, seguindo estas etapas:
- Presta atenção aos sons ambientes que te rodeiam e direciona a atenção só para esses estímulos;
- Passa para as sensações do teu corpo (frequência cardíaca, temperatura, circulação sanguínea, etc...)
- Passa depois para os próprios pensamentos e emoções;
- Por fim, abre os olhos e concentra-te apenas num objeto que se encontre á tua frente. Concentra-te só nesse e ignora tudo o que está á volta.
2. Aprender a manter a concentração: Todos sabemos que, se um atleta for competente em manter a concentração mesmo na presença de distrações ou interrupções, a sua performance é claramente mais próxima da sua capacidade máxima. Para treinar esta habilidade o atleta pode escolher um local sossegado, onde não haja distrações. Escolher um objeto relacionado com a sua modalidade (bola, raquete, stique, ou outro). Pegar no objeto com as duas mãos e sentir as texturas, tamanho etc. Após esse momento, deve largar o objeto concentrar-se apenas nas percepções que obteve quando esteve a pegar. Caso o pensamento comece a divagar, deve repetir a sequência. Vá registando o tempo que consegue manter a concentração interna e externa para verificar a progressão.
1. Treinar na presença de distrações - As equipas técnicas tendem sempre a aproximar o treino ao contexto de jogo, promovendo aos atletas capacidades de respostas e adaptação ao contexto que vão encontrar em competição. Porém, o contexto competitivo não apresenta apenas a componentes técnica e estratégica. Há imensas variáveis psicológicas que podem ter uma influência direta na produtividade do atleta e equipa. Desta forma, aconselho sempre, nos contextos em que trabalho, a treinar na presença de:
- Ruido dos Adeptos (optar por áudio): este trabalho desenvolverá uma adaptação ás barreiras de comunicação atleta-atleta e treinador-atleta e ajudará os elementos da equipa a adaptarem-se e tornarem este estimulo numa presença sonora irrelevante no dia do jogo;
- barulho ambiente - sinais sonoros de pouco destaque mas que estejam presentes e possam provocar distração;
- Imagens que distraem: Dependendo da modalidade, colocar no contexto de treino imagens significativas para a equipa, que os possam fazer distrair da tarefa. O objetivo passa também por adaptar a equipa ao estimulo que pode ser perturbador na competição;
- Treinar á temperatura da competição;
- Adaptar os treinos aos horários do jogo (Nas realidades em que se possa fazer isso)
2. Treinar o Controlo Visual: É natural que, no decorrer do jogo o atleta direcione o olhar para distrações, provocando momentos de desconcentração, o que, como é lógico afetará a sua produção. Olhar para os espectadores, instruções do árbitro e comportamentos desajustados do adversário são alguns dos exemplos. O treino que podemos fazer aqui é direcionar o foco visual para os sinais que são importantes para a tarefa. Podemos então selecionar objetos de destaque para substituirmos os distratores, como: Fixar o olhar num determinado ponto do campo, na bola, nas meias. O importante é que esse objeto mantenha o atleta concentrado no jogo.
Deixei então algumas das estratégias que poderão ser utilizadas para trabalhar a componente que mais vezes é falada e por vezes, menos é treinada, adquirida e consolidada. Para abordar mais aprofundadamente este tema, como outros que se encontram desenvolvidos aqui no blog, pode entrar em contacto comigo via email, ou deixar um comentário ao artigo.
Caro leitor.
Até breve!
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