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O Que Digo e o Que Faço! Uma Questão de Coerência!

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Olá caro leitor!


Tenho acompanhado, com o interesse habitual (que é muito), este arranque de época no que ao futebol diz respeito. 


Observo o jogo, essencialmente na sua vertente comportamental, mas muito mais do que isso. Conferências pré-match, flash-interviews, pós-match e claro está, as noticiais diárias. Deste conteúdo de informação e após bastante filtragem, destaco dois aspetos essenciais. 

Primeiro o mercado, a tal janela de transferências que faz os atletas sonhar com outras paragens, onde as condições são melhores, ou no mínimo diferentes, tanto a nível desportivo como pessoal/familiar. Em segundo a forma como os atletas e treinadores lidam com esta janela que por vezes faz dispersar atenções, energias e provocar "brainstormings" em ativos que deveriam já estar alinhados e comprometidos com o projeto no qual têm contrato. Desafio enorme para os treinadores esta questão central.


É aqui que destaco o nome do titulo deste artigo! A tal coerência entre dois fatores determinantes… das palavras aos comportamentos e a estreita ligação que estes dois vetores deverão ter para a eficácia na liderança do treinador. Não só neste período de maior instabilidade bem como no contacto diário durante a época desportiva com a sua equipa.


No decorrer da minha carreira desportiva, integrado em equipas técnicas ou em trabalhos individuais - com treinadores ou atletas - uma das características de maior destaque para a eficácia no trabalho do líder/equipa técnica, é a proximidade total das palavras aos comportamentos. Se um treinador destaca a coesão, as regras do grupo, o modelo de jogo ou uma janela de oportunidade para um jogador de acordo com o seu desempenho no treino, a ação comportamental tem de estar em conformidade com o que foi abordado verbalmente. Caso não esteja, são passos que se dão no sentido de um distanciamento naquilo que é o passar da mensagem, a confiança e a empatia - factores estes determinantes para a produtividade e estabilidade da equipa!


Porquê este tema hoje??


Por causa de dois exemplos fantásticos no que diz respeito á total coerência entre entre o dizer e o fazer! No primeiro caso - lá terei que voltar ao mercado de transferências - destaco o "caso Marega" e a forma como Sergio Conceição está a saber gerir o processo. No segundo exemplo, tenho obrigatoriamente de destacar os pequenos excertos que vão surgindo no meu feed das redes sociais com autênticos exemplos de referencia onde Pep Guardiola tem tido um papel de referencia.


Primeiro Caso - A Gestão de Sérgio Conceição no "caso Marega"


Esta é a segunda época de Sergio Conceição ao serviço do Futebol Clube do Porto, pelo que já sabemos bem do tipo de valores e liderança que este treinador tem como base de funcionamento. Um dos aspetos que o treinador do F.C. Porto destaca permanentemente são questões como: Compromisso, Grupo, Coesão, rigor, exigencia e dedicação. 

Acredito - apenas baseado na observação externa - que estes serão alguns dos principais valores que tem como base para o seu endogrupo (ou seja, a equipa que lidera). Transformando estes valores numa das componentes mais determinantes para a estabilidade e coesão de uma equipa de alto rendimento: As regras e as normas!

É aqui que entra um fator diferenciador dos treinadores que conseguem implementar e estabilizar o seu grupo de trabalho. A correta aplicação das consequências ás normas que estão definidas desde o inicio da época! E o Sérgio neste aspeto tem sido um autentico mestre ao gerir as regras que o próprio estabelece… ou como diz o titulo… apresenta uma coerência notável (lembrem-se como geriu o caso do Iker Casillas e a mensagem que essa ação apresenta para todo o grupo).

Marega quis sair para Inglaterra. O que é totalmente legitimo e compreensível. Qualquer jogador tem as suas ambições, metas e sonhos para a carreira desportiva/financeira. O único aspeto desalinhado nesta questão é a potencial perda de compromisso e de predisposição para o treino. É aqui que entra o fator diferenciador do treinador que enaltece a norma no inicio da época, como sendo um dos valores do grupo e depois nem sempre a aplica, do treinador que age em conformidade independentemente do papel do atleta e do seu destaque no grupo de trabalho. 

Esta conformidade traz, credibilidade, controlo e estabilidade a um grupo que sabe qual a conduta base para os objetivos ao qual todos se propuseram no inicio da época desportiva.

Com este tipo de comportamentos coerentes, mas ao mesmo tempo genuínos, Sérgio Conceição continua a dar passos certos na sua consolidação de liderança, defendendo sempre os seus valores, com as normas que se encontram estabelecidas desde o inicio do processo. Como o próprio diz… "se Marega vier comprometido com a equipa e com o treino… será uma mais valia."

Metodologicamente bem trabalhado este processo, vamos agora perceber qual o comportamento e forma desportiva do atleta no contacto com a exposição competitiva.

Segundo caso - Pep Guardiola no contacto com os seus atletas em treino.


Este é sem duvida um documentário obrigatório para qualquer profissional na área do desporto, onde se destaca permanentemente o contacto diário e alguns momentos-chave do Manchester City na caminhada para o titulo nacional. No decorrer deste documentário têm surgido momentos brilhantes de Pep no contacto com os atletas, no qual destaco uma característica determinante num treinador. A capacidade de dizer o que é preciso dizer e por vezes, não o que lhe apetece dizer! A capacidade de teatralizar para aumentar o máximo de produtividade na equipa! A capacidade de perceber as variáveis que estão em cima da mesa em cada cenário e ajustar a comunicação de acordo com a leitura dessas variáveis e não com o acaso e improviso total proveniente do momento. E este é um fator totalmente diferenciador entre os bons profissionais e os profissionais de excelência!

Dos vários excertos que tive possibilidade de ver destaco um momento. O Manchester City está a dois jogos de ser campeão e leva 16 pontos de avanço do segundo classificado.

Um dos principais riscos desse cenário totalmente favorável é certamente algum relaxamento que poderia influenciar a qualidade e intensidade do treino e consequentemente do jogo. Certamente com essa variável de risco identificada, Pep Guardiola ao observar na unidade de treino alguma dispersão e quebra foco no processo atuou com coerência e de acordo com os seus valores (qualidade, exigência, compromisso e foco sempre no processo e não no resultado). Pára o treino e faz isto.



O que podemos extrair deste momento:

  • Capacidade de antecipação e analise das variáveis de risco que este microciclo apresenta para a equipa;

  • Capacidade de comunicar de forma objetiva, com impacto, com clareza e com um não-verbal adequado ao verbal;

  • Apresenta um conteúdo de comunicação ajustado ás variáveis de risco, procurando eliminar o comportamento de grupo desajustado;

  • Correto alinhamento entre os seus valores/normas com a comunicação apresentada;

  • Cultura de exigência direcionada para o processo e qualidade do treino e não para o resultado (vejam que o City nesta fase estava já a 16 pontos do segundo classificado). O foco no processo leva a que pretendas sempre potenciar o teu jogo, não ajustando o nível de exigência de acordo com a tabela classificativa, mas sim á evolução permanente da equipa.

Sergio Conceição e Pep Guardiola, demonstram através destes exemplos uma total linha de coerência - e como consequência, de eficácia no seu processo de liderança - entre valores individuais/equipa, normas e regras de conduta e a ação comportamental apresentada. Sendo dois exemplos claros de coerência e alinhamento total entre as palavras e as ações.


Caro leitor.

Até breve!

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