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Psicologia do Desporto - A Versão de Quem Mais Importa - Os Atletas! Miguel Sardinha

Olá caros leitores. Hoje dou inicio a um espaço onde o fator principal é a percepção do atleta. Como em todos os desportos, os grandes responsáveis pelo espetáculo, pela arte, pela aplicação da estratégia e do talento são os atletas. É com esse foco que inicio com este artigo, uma abordagem diferente no blog. Dar a possibilidade dos leitores acompanharem a percepção e vivencias dos atletas com quem fui trabalhando ao longo do meu trajeto desportivo relativamente ao trabalho integrado em Psicologia do Desporto de Alto Rendimento Desportivo. Começamos com o Miguel Sardinha, jogador de Hóquei em Patins da Associação Desportiva de Oeiras, clube que subiu esta época para o considerado melhor campeonato do Mundo da Modalidade. O Miguel também é atleta internacional pela seleção de Angola de sub.20, tendo participado no campeonato do mundo em Espanha - Vilanova em 2015. Passo-lhe desde já a palavra para nos falar sobre a sua experiencia, sensações e resultados acerca do trabalho que tem vindo a desenvolver nesta área do treino desportivo. "Boas caros leitores, hoje escrevo este artigo a pedido do meu amigo e psicólogo desportivo, Luís Parente, para dar-vos a conhecer aquilo que foi e é a minha experiência relativamente a esta área que hoje em dia é tão importante para o treino desportivo.

Tudo começou em 2015 aquando da minha participação no campeonato do mundo de sub-20 de hóquei patins, pela seleção nacional de Angola, visto ter dupla-nacionalidade, pois o meu pai nasceu em terras angolanas, sendo assim possível a minha chamada á seleção dos Palancas Negras. A equipa técnica, era composta pelo treinador Nuno Resende e Luís Parente, sendo que este último foi-me apresentado - quando cheguei ao estágio - como o psicólogo desportivo da seleção. Confesso que fiquei algo surpreendido, pois nunca tinha ouvido falar sobre o que seria o trabalho de um profissional dessa área, e posso dizer que desde desse primeiro dia fiquei fascinado por esta área que até então para mim era desconhecida.
Primeiro que tudo, criamos logo ali, durante aquelas 2 semanas de estágio uma relação de muita confiança, devido a um trabalho que foi feito de forma muito intensa. Consegui ficar a perceber , que tudo aquilo que fazemos pode ser controlado pela nossa mente. Definimos prioridades e delineámos estratégias que encontrámos os dois para conseguir elevar o meu nível de jogo para um patamar superior.
 
Durante o estagio, o treino era individual com cada jogador, e consistia em duas vertentes: O treino dentro de pista, e o Treino fora de pista.
Comecemos então com o treino fora de pista, pois este para mim é extremamente importante. E o que é que é isto de um treino fora de pista, perguntam vocês?
A resposta é muito simples, o treino fora de pista, não era mais nem menos que uma reunião entre mim e o Luís, onde a ideia era tentar dominar todos os momentos de jogo que podemos controlar. Acima de tudo, tentávamos arranjar estratégias para que, depois, em momento de competição, conseguisse ter todas as ferramentas necessárias a nível mental para dar a volta a situações menos positivas, ou não deixar deslumbrar por situações que parecem brilhantes e que por vezes pode haver desilusões. Trabalhamos sobre aquilo que eram os meus pontos fortes dentro de campo, para cimenta-los, e para que esteja durante os minutos que esteja em campo, sempre a top.

Passemos agora para o treino dentro de pista. No meu caso particular, foi muito direcionado para a marcação das grandes penalidades, coisa que no hóquei implica muita calma e muita responsabilidade, pois neste momento, as bolas paradas são fundamentais na decisão dos jogos de hóquei em patins.

O treino neste momento especifico do jogo, era basicamente para criar uma rotina, quando ia bater o penalti para que repetisse sempre que fosse marcar. De facto hoje em dia vemos bastantes jogadores a fazerem sempre a mesma rotina ou os mesmo rituais, antes de bater um livre ou um penalti, pois de facto não é algo que vem ao acaso, ao cumprirmos, dá-nos uma segurança muito maior, pois é algo que fazemos muitas vezes, mas muitas vezes mesmo durante o treino, então sentimos que temos a marcação preparada e que tudo vai correr bem.
Lembro-me que nestes treinos, repetimos 20 vezes a marcação do penalti, com um colete no ângulo, e o objetivo era acertar o maior numero de vezes no colete, e ainda hoje me lembro que acertei 17 em 20 o que para mim foi muito bom!! A partir desses treinos, adotei para o resto da minha vida toda a rotina para a marcação das grandes penalidades.

Entretanto, a seleção passou, e a relação de amizade ficou e falamos semanalmente, e sensivelmente á dois meses surgiu uma nova hipótese de trabalho novamente com o Luís. E bem-dita hora que tal aconteceu. Estava eu a meio de uma eliminatória de súbida de divisão, contra a AD Sanjoanense, quando lhe liguei e pedi-lhe para trabalharmos arduamente durante as 2 ultimas semanas de treino para a preparação do derradeiro jogo. O cenário não era fácil, estávamos em desvantagem por 2 contra uma equipa muito forte e na verdade ainda não tinha perdido nenhum jogo por mais de 2 golos durante todo o campeonato. Essas duas semanas tivemos reuniões e o que eu fiquei com o “trabalho de casa” de ter que fazer sozinho pois eu vivo em Lisboa e o Luís no Porto. E assim foi, trabalhamos muito a concentração durante o jogo, controlar os momentos de jogo, a respiração, e fizemos mesmo o plano de jogo. Pusemos todos os cenários possíveis. Cpmeçarmos a ganhar, a perder tudo o que fosse possível, para que tivesse tudo controlado e não perder a cabeça em momento algum. Como foi então o transfere para o jogo? O jogo começou mal para nos, sofremos logo 1 golo e tudo ficou bastante negro, mas mantive a calma, sabia que tal podia acontecer pois já tínhamos “previsto” e sabia o que tinha que fazer para reverter a situação. A verdade é que a equipa conseguiu dar a volta, e eu particularmente nunca perdi a calma e a confiança, muito por culpa daquilo que já tínhamos trabalhado nos “bastidores”.

Em modo de conclusão, a meu ver, o treino do psicológico no desporto acaba por ter uma preponderância enorme, naquilo que é o jogador bom e o jogador muito bom!! Hoje em dia todos os clubes deviam conter nas suas estruturas desportivas um psicólogo desportivo, pois é uma área do treino importantíssima para a elevação a outro patamar, no que diz respeito a qualidade de cada um de nos. Eu pessoalmente, espero poder contar com o Luís para o que der e vier, e continuar a aprender cada vez mais, e a elevar o meu nível de jogo com a sua ajuda. Um abraço e até breve!!!" Agradeço ao Miguel Sardinha a sua colaboração para com o blog, aproveitando para lhe desejar uma estreia no melhor campeonato do mundo ao seu nível… ou seja, de craque!! Caro leitor, Até breve!

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