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"Na Diagonal" - A Antevisão do Clássico Sporting CP- FC Porto aos olhos da Psicologia






"Na diagonal"!! Três meses do Blog "Psicologia Alto Rendimento" e trinta mil visitantes. Quando comecei este projeto nunca pensei que o impacto fosse tão grande e que a mensagem chegasse tantas pessoas. Assim sendo, e tornando-se este espaço um local onde cada vez mais tenho prazer em "ganhar tempo", torna-se essencial abrir o leque de conteúdos. Para que se possa perceber outras abordagens da Psicologia do Desporto no contexto diário das equipas de alto rendimento desportivo.

E surge então a necessidade de incluir no Blog o espaço "Na Diagonal". Onde uma vez por semana será efetuada uma antevisão prática de um jogo por mim selecionado, tendo claro está, como base a Psicologia do Desporto. E que melhor forma de começar! Venha daí pensar um pouco sobre o Clássico de hoje para a Taça de Portugal: Sporting - Porto.

História, regionalismo, politica, cultura, poder. Estas são algumas das componentes sociais que englobam sempre este grande jogo de futebol. Tendo este uma particularidade. É a segunda-parte de uma eliminatória que se jogou em Fevereiro! Muito mudou desde esse primeiro jogo, vejamos algumas dessas mudanças:

- No jogo da primeira mão, no Estádio do Dragão, as duas equipas encontravam-se nos dois primeiros lugares da Liga Portuguesa, onde a projeção social seria que as duas equipas fossem as principais candidatas ao titulo de campeão nacional;

- Ambas estavam em todas as frentes para disputar. Surgindo o jogo da primeira mão uma semana antes dos oitavos de final da Champions para o FC. Porto a 14/02 e  16 avos de final da Liga Europa para o Sporting 15/02. Ou seja, calendário apertado;

- Número de baixas no plantel menos numerosa que para o jogo de hoje;

- Contextos de Liderança distintos devido aos acontecimentos na estrutura do Sporting Clube de Portugal;

- Prioridades de objetivos e a sua gestão por parte das duas equipas;

Vou então desafiar-me, e claro, colocando numa perspetiva exterior, dado que não tenho o conhecimento interno do dia a dia de ambos os clubes, tentar antever e perceber com componentes é que um profissional em Psicologia do Desporto poderia preocupar-se para:

  • Identificar;
  • Antecipar;
  • Atuar;
Vamos iniciar pelo Sporting Clube de Portugal e perceber o seu contexto actual, as variáveis de risco a antecipar e direcionar e aquelas que serão importantes potenciar:







Pontos Fortes - Potencialidades

  • Confronto estrutural/crise de liderança: Sobre este aspeto tenho claramente de enaltecer o posicionamento do treinador. Percebeu o seu papel dentro da estrutura, o seu posicionamento e defendeu sempre dois aspetos essenciais a um líder: A produtividade da equipa, fazendo questão de vincar o seu permanente desejo de ter "os melhores" disponíveis para jogar. E o ambiente de grupo, blindando, colocando-se ao lado de quem produz ativamente rendimento desportivo e tentando atenuar os estímulos distratores externos. Bem gerido por Jorge Jesus. Poderia colocar este fator como um cuidado. Mas penso, pelas reações sociais dos adeptos e pelos comportamentos de reforço e coesão da equipa, que a forma como este acontecimento foi gerido, fortaleceu a coesão social e de tarefa do grupo de trabalho;

  • Objetivo Prioritário: No momento atual do Sporting, acredito que esta seja a prioridade máxima. Estar no Jamor para conquistar, a juntar á Taça de Liga, a Taça de Portugal. Compromisso, direção da atenção para a tarefa e um desejo de atingir o objetivo serão certamente denominadores comum para o jogo desta noite. Tenho aqui que salientar que este é um objetivo de resultado, sendo essencial que na cabeça dos atletas esteja o conjunto de comportamentos (objetivos de desempenho) que direcionem a equipa para a aplicação do plano pretendido.

  • Jogo no seu contexto: Contexto de casa deverá ser sempre um contexto favorável. No estado psicossocial que se tem vivido, onde a emoção e apoio têm sido constantes mais de relevo se torna. Claro que para os adeptos tudo depende de um fator... o resultado. Torna-se essencial, caso comece a haver impaciência externa, a equipa não direcionar a atenção para esse estimulo. Estimulo esse nada relevante para o desempenho da sua produtividade grupal em campo.

  • Jogar apenas com um Cenário: Este é um ponto simples. O cenário de preparação do jogo é simples. A vitória. Sendo o plano de jogo e os seus momentos ajustados a esse cenário único.
Fragilidades - Cuidados:

  • Posicionamento do Presidente: Será que deve estar no banco? Deve ir para a bancada? Que influencia terá o seu posicionamento hoje? Afetará os atletas a sua presença? Se por um lado penso que voltando a Alvalade, Bruno de Carvalho deverá estar no local que sempre nos habituou, o banco de suplentes, mostrando um posicionamento forte e pouco oscilante por influencias externas. Por outro lado, e percebendo que há conflito na relação presidente-atletas, como seria gerido uma potencial proximidade e que emoções previas e durante o jogo teria a sua presença? Uma coisa é certa... o impacto da sua presença nunca será nula... terá sempre um impacto positivo, ou negativo, mas nunca nulo!

  • Controlo das Componentes Emocionais (objetivo de resultado): Caso com o decorrer do jogo o cenário não seja de vantagem para o Sporting, é natural que surjam algumas precipitações, devido á direção dos objetivos. Tornando-se o foco de resultado e não o desempenho. Esse aspeto pode trazer precipitações comportamentais. Como perda de coordenação em momentos de finalização e desajuste nas tomadas de decisão essencialmente no momento ofensivo.

  • Baixas no Plantel: São vários os atletas indisponíveis, pelo que, essas ausências, apesar de bem colmatadas por uma definição de papeis por posição, desenvolvida pelo seu treinador, nunca poderá ser considerada uma vantagem para o jogo.
Colocamos agora a atenção na equipa técnica do Futebol Clube Porto, e vamos lá antever, numa abordagem qualitativa da competição, as potencialidades e cuidados a ter para esta segunda mão da Taça de Portugal.








Pontos Fortes: - Potencialidades

  • Recuperação da liderança no campeonato: O jogo de Domingo passado demonstrou um Futebol Clube do Porto que sabe ultrapassar adversidades, que se belisca com alguns acontecimentos ( vi jogadores desesperados no banco aos 60min no restelo), mas que recuperam emocionalmente e mantém a estabilidade emocional em quase todos os momentos associados á tarefa. A recuperação da liderança no campeonato traz sempre níveis altos de confiança e estima, sendo (desde que regulados adequadamente) uma base para eventos futuros. Sim nós na Psicologia do Desporto temos como grande desafio dizer que cada competição tem os seus objetivos e que uma não apresentam influência sobre as outras. Podemos regular? Sim. Mas a influência está sempre lá.

  • Plantel com poucas limitações no momento atual: "Com a carne toda no assador". Para esta ultima fase do campeonato, Sérgio Conceição tem disponível quase todos os atletas (á excepção de Danilo), para selecionar o que pensa ser o mais ajustado para os contextos que irão vivenciar;

  • Vantagem na eliminatória: Jogar em vantagem numa eliminatória traz sempre maior estabilidade, desde que bem antecipada por um plano de jogo dentro de uma identidade de sucesso. Pois uma vantagem pode ser um pau de dois bicos. Gerir ou não gerir?
Fragilidades - Cuidados:

  • Controlo da Euforia: No passado Domingo, o Futebol Clube do Porto conseguiu uma vitória importantíssima para o alcance o maior objetivo da época. Sem dúvida que após o apito final, houve uma descarga enorme de energia positiva. Vimos abraços, correrias, post's nas redes sociais, ou seja, vimos euforia! Como já falei em artigos no blog, as três emoções mais prejudiciais no desporto são a euforia, depressão e raiva. E é aqui que deve estar a atenção da equipa técnica, no controlo da euforia. Vi Sergio Conceição satisfeito (eufórico nas quatro linhas) após o jogo, mas vi também frases como "direcionar o trabalho para quarta-feira.", ou mesmo Iker Casillas que após o jogo refere "agora temos de pensar já em Quarta-Feira". Estas situações demonstram um direcionar da atenção e de controlo das energias para a tarefa. Como se faz isso? Através de direção da atenção através do discurso e do programa de trabalho e de preparação para a competição. 

  • Vantagem na eliminatória: Jogar com dois cenários. Há quem diga que é preferível e há quem diga que não, pois coloca sempre a tendência estratégia de gerir algo que foi conquistado na primeira mão. Para mim, esta questão controla-se com a estratégia definida para o jogo e para a tentativa de controlo dos seus cenários (vantagens, desvantagens...) e na coerência de tomadas de decisão do treinador com o plano traçado.

Aqui ficou então um breve enquadramento sobre o que poderia ser a atuação da Psicologia do Desporto antes de  um dos clássicos que não deixa indiferente o país. Hoje certamente que muitos olhares vão estar direcionados para a Sporttv ás 20:30h e ao vivo no Estádio José de Alvalade.

O meu desejo, como o de qualquer outro profissional ou apaixonado pelo Desporto é que, não seja um "joguinho", seja sim uma noite de "Jogão"!


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