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Preparar o jogo dos Pés á Cabeça! (Atletas)




Bom dia, caros Leitores!

Na primeira parte do artigo "Preparar o jogo dos Pés á Cabeça!", orientei a atenção para o papel do treinador na preparação do jogo desde a estratégia ao comportamento. Quais as funções do treinador e qual o seu estado ideal para dar um contributo eficaz aos atletas e como consequência á sua equipa para potenciar nos mesmos, as suas melhores versões.

O treinador deve transformar duvidas em certezas, direcionar a instabilidade emocional que um jogo naturalmente traz, por ser um momento de avaliação, em estabilidade emocional.

Desta forma e fazendo um apanhado do artigo da semana passada pode-se destacar que as principais funções do treinador na preparação de um jogo são:

- Definir um plano concreto e exequível de jogo. De preferência que os jogadores tenham identificado e consolidado os seus padrões base de comportamentos;

- Definir os papeis para cada atleta. A definição de papeis ajuda o atleta a orientar-se, promove certezas e direção no comportamento a treinar durante a semana para transferir para a competição;

- Oferecer permanente suporte a questões e dúvidas por parte dos atletas. Apresentando um papel de facilitador e orientador nesta relação. Para que este processo seja totalmente eficaz é importante existir vias de comunicação abertas entre treinador e atletas;

- Treinar as suas próprias emoções - evitar sentimentos de frustração, depressão e raiva, que são geralmente consequentes a abordagens resultadistas. Onde as competições são analisadas apenas através do resultado e não pelo desempenho obtido. Neste tipo de treino (que se treina através de sessões em gabinete e no terreno) a abordagem aos acontecimentos deve ser macro, ou seja, tendo em consideração todo o trajeto e evolução da equipa e não apenas no desempenho do último jogo, o que muitas vezes leva a análises catastrofistas. A analise macro promove uma avaliação racional de todo o percurso e evolução da equipa,  sendo este posicionamento positivo para a manutenção do equilíbrio emocional.

Como podemos reparar, o treinador tem um papel significativo desde o processo de definição da estratégia para o jogo, passando pela criatividade na seleção dos conteúdos de treino e terminando no seu papel de elemento facilitador para a sua equipa na competição. Porém, os grandes intervenientes do espetáculo desportivo, foram, são e sempre serão os seus praticantes. Os atletas!

E é nos atletas que hoje direciono toda a atenção, nos  elementos promotores do espetáculo que move multidões. Que faz com que todos nós apaixonados pelo desporto passemos pelo epicentro de um dia chuvoso só para ver uma demonstração de boa organização coletiva, de bons passes, de bons dribles, de "carrinhos" no limite e claro, de golos! Uns que nos fazem levantar das cadeiras, outros que nos enchem de frustração, mas que nos mantêm sempre ligados a este fenómeno que é... o Jogo! Com o foco centrado nos seus principais intervenientes... Os jogadores!

Sabemos que a competição é um momento tipicamente stressante para os atletas, onde eles próprios colocam questões que nem sempre são positivas para o seu desempenho (dúvidas sobre o seu rendimento, a sua qualidade, a capacidade para superar com sucesso o desafio, de corresponder ao papel que está definido, etc.). Estas questões trazem consigo a instabilidade inerente á competição. Esta instabilidade pode ser treinada pelo próprio atleta para que a sua regulação emocional - estabilidade - seja a base fundamental da sua preparação para o jogo. Duas palavras-chave destaco deste treino para atletas - Preparação e Planeamento. O planeamento e preparação das variáveis que poderão surgir no jogo trazem consigo uma maior percepção de controlo sobre os acontecimentos competitivos - logo, maior estabilidade para as enfrentar.

Resultado de imagem para sane city dribleDestaco aqui os artigos de Buceta (1998) para perceber que variáveis poderão causar algum desconforto ao atleta na fase de pré-competição e competição:








  • O significado e a incerteza do resultado;
  • A dificuldade de se prever o seu próprio desempenho;
  • A possibilidade de não alcançar o resultado desejado;
  • As consequências negativas que podem resultar de uma falha no jogo;
  • Ter de competir em circunstancias desfavoráveis (condições climatéricas adversas, ambientes hostis...);
  • O impacto dos erros;
  • Sentir-se avaliado pelos outros;
  • Os cenários que decorrem no próprio jogo (situações momentâneas de desvantagem e vantagens curtas ou situações de grande desnível de resultado);
  • A perda de uma vantagem significativa;
  • Os sucessos de adversários em competições;
  • Perder uma vantagem considerável;
  • Ter que jogar contra o relógio;
  • Decisões polémicas dos árbitros;
  • O comportamento stressante do treinador;
  • Dor e fadiga;
  • Lidar com os momentos mais decisivos.
Após a exposição destes items, surge-me uma frase que tem de ser transversal a nível etário, ou seja, dos escalões iniciais de formação ao alto rendimento dos séniores e que envolve o treinador. "A mensagem do treinador deve ser inclusiva e deve ser capaz de gerar nos atletas o desejo de aprender e evoluir com a competição e não o único e exclusivo desejo de ganhar!". É esta direção total para os resultados, da preparação á avaliação, que faz com que a maior parte das variáveis de instabilidade em cima descritas surjam.

Para que o atleta aprenda a controlar e melhore as suas habilidades psicológicas de preparação e confrontação com o jogo é essencial que seja exposto a estes cenários de jogo em contexto de treino. Porém esta exposição deve ser feita com cuidado e de forma progressiva, para que a adaptação ás situações seja melhor e maior! 


Quais são então os benefícios psicológicos da preparação especifica para a competição?









  • Fortalecimento da autoconfiança;
  • Controlo do stress;
  • Aumento dos níveis de motivação;
  • Atenção controlada (direcionada para a tarefa).
Como poderão então os atletas preparar-se para a competição de forma a potenciarem as vantagens em cima descritas? Na minha opinião, sempre através de uma abordagem multidisciplinar! Onde o ponto mais importante é o PLANO! O plano que a equipa técnica, através do seu treinador, definem para um determinado jogo!

O plano como sabemos, aumenta o sentimento de controlo e estabilidade! Desta forma é essencial que os conteúdos sejam passados aos atletas para que os mesmos possam preparar o seu jogo da melhor forma possível. 

Começa aqui o desafio que lanço aos atletas! A construção do seu próprio plano de jogo, tendo sempre como base o plano/estratégia proposta pelo treinador. E porque? Porque um atleta é um elemento de uma equipa, com um papel definido e todos os comportamentos por si esperados estão integrados nas dinâmicas coletivas. 

Vamos então simular um microciclo de uma modalidade coletiva onde temos 5 unidades de treino e jogo no fim de semana. Para cada dia desenvolvo um conjunto de conteúdos de preparação psicológica para a competição de forma a promover no atleta um maior controlo e estabilidade sobre as ações a desenvolver para o jogo, para que potencie as variáveis psicológicas chave da preparação para o jogo (autoconfiança, motivação, controlo do stress e atenção controlada)

Atletas, vamos a isto:




Planeamento Semanal para a Competição - Atletas!

Segunda-Feira:

A preparação de um microciclo inicia-se na minha perspetiva com a avaliação do jogo anterior, por isso:


  • Auto-Avaliação do Desempenho: Avaliar os pontos positivos e a melhorar que se associem ao conjunto de comportamentos efetuados dentro do papel definido para o atleta. Evitar análises catastrofistas ou sobre-valorizações. Evitar também direcionar a avaliação para o resultado. A chave é analisar o desempenho: os comportamentos!

  • Recolha de Informação sobre a Estratégia e o seu papel para o próximo jogo: Certamente a equipa técnica no primeiro treino da semana lança a estratégia e os papeis a desempenhar. É importante que neste primeiro dia o atleta assimile as ideias chave para aplicação, visto que os conteúdos de treino serão baseados na estratégia definida. Esta primeira recolha traz direção e maior estabilidade ao atleta.
Terça-feira

  • Análise do Treino Anterior - avaliação dos aspetos positivos e a melhorar relativamente ao treino do dia anterior. Caso tenha adquirido a técnica de Visualização Mental é positivo que o atleta visualize esse treino. O positivo para trabalhar a autoconfiança e os aspetos a melhor mas já com a correção efetuada. De forma a incluir na memoria a correção a desenvolver no decorrer do treino de hoje.
  • Levantamento de Questões/Dúvidas - Sempre que necessário questionar o treinador sobre duvidas relativamente á estratégia ou papel proposto. Uma das funções do treinador é disponibilizar suporte e direção aos atletas.
  • Começar a construir o próprio plano de jogo - Relembrar os objetivos da equipa e estabelecer objetivos individuais. De resultado e desempenho, porém deve dar-se mais enfoque aos objetivos de desempenho. Esses sim controlamos a 100%.
Quarta-Feira

  • Análise do treino anterior;
  • Levantamento de Questões/Duvidas;
  • Continuação da construção do plano de jogo - Por escrito relembrar os pontos importantes do plano de jogo da equipa (curto e objetivo) e do advsersário (pontos fortes e fragilidades), se possível recorrer ao vídeo em casa para confrontar em imagens o texto.
Quinta-Feira

  • Análise do treino anterior;
  • Levantamento de Questões/Duvidas;
  • Continuação da construção do plano de jogo: Este é um momento essencial para a promoção da estabilidade no jogo por parte do atleta. Prever algumas dificuldades que possam surgir no jogo e encontrar estratégias para ultrapassá-las. Por exemplo,  DIFICULDADE -perder a cabeça caso a equipa sofra golo no inicio; SOLUÇÃO - Respirar fundo e pensar no plano de jogo!
Sexta-Feira

  • Rever o NÓS: Rever o plano de jogo e o conjunto de comportamentos que o atleta deverá desempenhar! Nesta fase pré-competitiva já há algum stress, logo pouca informação nova é assimilada. Por isso, devemos olhar só para nós e numa perspetiva de revisão... de relembrar!

  • Visualização Mental: Caso o atleta tenha esta técnica adquirida, pode após o treino já em casa, visualizar-se em competição. Dentro do seu papel a realizar as ações com sucesso. Nos diversos momentos do jogo.

  • Relaxamento: Caso o atleta tenha adquirido a técnica de controlo de respiração Profunda de Lindemann, Progressivo de Jacobson ou a Autogénea de Schultz, poderá aplicar a que se sinta mais confortável para promover o sono e o descanso.
Dia de Jogo

  • Rever o Nós: De forma muito resumida e com Visualização mental;

  • Aplicar as Rotinas Diárias: Onde devem estar incorporados momentos de distração;

  • Visualização Mental de Sucesso: O atleta pode num momento por si selecionado (antes da chegada ao estádio, ou durante  aquecimento), visualizar imagens de sucesso (golos, bons passes, boas intercepções ou festejos), de forma a que potencie os seus níveis de autoconfiança;

  • Controlo da Activação: Perceber qual o seu estado de ativação (relaxado, optimo ou ansioso) e regular o seu nível através de técnicas de controlo de respiração e controlo de pensamentos (que deverão ser positivos e direcionados para o plano de jogo)

Saliento apenas que este é um desafio que engloba um programa geral. Cada atleta tem as suas necessidades e este trabalho requer que essas necessidades individuais sejam sempre tidas em consideração. Bem como a utilização de algumas das técnicas sugeridas, que deverão ter sido treinadas com um profissional em Psicologia do Desporto.

Caro Leitor,

Até Breve!

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