Bom dia caro leitor!
Caso pretendêssemos explorar esta semana desportiva ao máximo ,muito teríamos para refletir, explorar e eu... muito para escrever. Desde liderança e o seu posicionamento e forma de atuação, ao impacto que as decisões do líder máximo poderão ter para o endogrupo (jogadores e treinadores) e exogrupo (impacto social, o impacto de massas). Porém, outro fator se destacou sobre este processo onde a liderança presidencial ganhou destaque.
Como está o líder? Qual o seu estado emocional actual? Muito se começou ouvir a falar no conceito de "Burnout", ou na nossa língua materna, esgotamento. Banalizou-se e interpretou-se demasiado sobre esta temática, que inúmeras vezes se encontra associada ao desporto de alto rendimento desportivo. Neste sentido, no artigo de hoje, vou "pegar" neste tema que se tornou praticamente viral para explorar as seguintes questões:
- O que é o "Síndrome do Burnout"?
- Como pode ser identificado?
- Quais as principais habilidades psicológicas implicadas?
- Que ferramentais gerais para a sua prevenção?
Com o meu percurso associado à
Psicologia do Alto Rendimento Desportivo, deparo-me algumas vezes com este tipo de
acontecimentos mais em modalidades de carácter individual, onde se trabalha de
uma forma obsessiva para atingir um resultado nos jogos Olímpicos, ou em
qualquer competição de relevo. Este padrão comportamental, faz com que o nosso
foco de vida seja quase em exclusivo a vertente profissional, neste caso o
desporto, apresentando quase sempre um défice de atenção e enfoque nas
restantes áreas de funcionamento. Este desequilíbrio de prioridades, ou melhor,
esta exclusividade de prioridades, conduz muitas vezes o atleta à exaustão, ou
seja, ao Sindrome de Burnout.
Dando o exemplo da natação, um atleta que esteja
a disputar tempos para o Nacional (e já nem falo no topo, que são os jogos
Olímpicos), inicia o primeiro treino às 06h da manhã, estuda após o treino, tem
treino à hora de almoço, estuda e tem treino à noite. Falamos então de um dia
onde os fatores principais de funcionamento são o treino (piscina, treinador e
cronómetro) e a escola, havendo claramente um défice de enfoque nas outras áreas
que promovem o equilíbrio ao ser humano.
May
(1992), salienta nas suas pesquisas sobre o tema Burnout que esta variável se
encontrava presente, como um dos principais problemas psicológicos, nos jogos
olímpicos de Barcelona em 1992, sendo portanto um tema já identificado pela
Psicologia do Desporto, onde quem pode experienciar este estado são os atletas
que, apresentam uma metodologia de
trabalho totalmente profissional e de grande exigência física, técnica, táctica
e Psicológica.
Encontra-se de seguida, um conjunto de pontos que eu considero fundamentais para
esclarecer o tema do síndrome de Burnout em Atletas:
·
Quando se define burnout, podemos referir que a
mesma consome a motivação dos atletas;
·
Loerh (1990) sugere que há três fases no
desenvolvimento das consequências do burnout: 1 – A sensação de entusiasmo e
energia começam a diminuir; 2 – O atleta começa a sentir abandono e angustia e
3 – Perda de confiança e autoestima, depressão e o consequente abandono da
prática.
·
Smith (1986), salienta que o atleta percebe a
sua atividade como um permanente equilíbrio entre custos e benefícios. O
Burnout surge quando este equilíbrio não se encontra presente e onde se acredita
que será difícil encarar um aumento nos custos, e os benefícios não compensam o
esforço que terá de ser feito.
·
Outros problemas onde pode surgir o Burnout:
Problemas com o técnico e demasiada carga horária desportiva sendo as mesmas
interpretadas cognitivamente pelos atletas de forma negativa.
Falta de motivação, diminuição da autoestima, relação de custos-benefícios desajustada e nível de entusiamo baixo são de facto, alguns dos sintomas visíveis, verificando-se então que a força mental do atleta se encontra longe dos seus níveis ideais.
E o que é isto então da força mental? É uma construção referente às capacidades
mentais que cada atleta deve desenvolver em níveis ideais, com o objetivo de
optimizar a sua qualidade experimental dentro do contexto desportivo. Passo
então a destacar as principais componentes da força mental do atleta, no que ao trabalho que desenvolvo diz respeito:
·
Autoconfiança
·
Motivação
·
Atenção e Concentração
·
Controlo dos Níveis de Ansiedade
·
Desenvolvimento da atitude
Todas estas habilidades estão interligadas. Ora vejamos, se eu controlar os meus níveis de activação para a sua regulação óptima (nem relaxado nem ansioso), terei maior capacidade de direcionar a atenção e concentração para estímulos relevantes á tarefa, executando as ações com maior coordenação. Das 5 habilidades darei destaque ás 2 que considero que se associam mais ao "Burnout": Desenvolvimento da atitude e autoconfiança.
Podemos
caracterizar o desenvolvimento da atitude como um dos principais combustíveis
que determinam não só a continuidade ou descontinuidade da prática desportiva
de cada atleta, mas também a qualidade desportiva vivenciada pelo próprio.
A
atitude é claramente uma disposição determinante, destacando-se pelo modo como o atleta é preparado quando encara situações adversas propostas
pelo ambiente. Neste sentido, um dos principais axiomas da psicologia do
desporto volta a ganhar destaque – Pensar, Agir – Sentir, pois como nos diz De
Diego e Sagredo (1992), pensamentos positivos geram emoções positivas e tudo
isso leva a ações positivas.
A
interferência do pensamento é de facto determinante para o desenvolvimento da atitude do atleta, sendo essencial:
·
Escolher o que pensar;
·
Evitar contaminar ideias;
·
Selecionar as ideias que são construtivas para
o desenvolvimento de uma componente que está diretamente ligada à atitude: a
autoconfiança.
Segundo
De Diego e Sagredo (1992), a autoconfiança é a crença interna de que um
individuo é capaz de fazer algo com base na adequabilidade das suas próprias
capacidades para a executar com êxito.
Podemos referir que a autoconfiança
apresenta uma representação esquemática de U invertido. Com duas partes baixas
(baixa confiança e excesso de confiança), sendo essas prejudiciais ao
rendimento desportivo, e a parte alta do U, referente ao nível óptimo de
autoconfiança, favorável ao rendimento desportivo.
Autoconfiança Escassa (PODEREMOS ASSOCIAR A ESTE O CASO BURNOUT)
-
Vêem-se como perdedores;
- Têm
tanto medo de falhar que se recusam a participar ou agir sem convicção;
-
Acreditam que por mais que treinem não vão melhorar o seu desempenho;
-
Apresentam altos níveis de ansiedade e baixos níveis de concentração;
- Alto
risco de abandono da prática desportiva.
Autoconfiança Ideal
-
Jogam com base nas possibilidades reais e propõem metas com base nisso;
-
Desenvolvimento conjunto da autoconfiança e níveis de habilidades físicas e técnicas;
-
Levam as derrotas e erros positivamente, como momentos de aprendizagem para
melhorarem no futuro;
- Não
se limitam devido ao medo de ganhar ou perder.
Autoconfiança Excessiva
- O
nível de autoconfiança é maior do que as chances na realidade o garantem;
-
Estas crenças inadequadas podem ser reforçadas por mensagens do seu ambiente,
como famílias, treinadores, entre outros;
- Essa
crença inadequada pode ser um reflexo externo de pouca confiança interna.
Agressividade e cinismo podem ser uma resposta externa a medos e duvidas
internas;
-
Evitam situações que possam danificar a sua imagem com: lesões fictícias,
discussões com o arbitro, entre outros.
Estas
manifestações comportamentais externas, bem como os sentimentos associados,
devido ao nível de autoconfiança, deve ser interligado permanentemente a modos
de ação objetivos, sendo aqui que o desenvolvimento da atitude tem a
contribuir, e para isso vamos compreender o desenvolvimento desta componente
através dos seus estados.
Os quatro Estados do desenvolvimento da atitude:
·
Estado Desafiador
·
Estado de Bloqueio e Explosivo
·
Estado apático e evasivo
·
Estado de desistência (PODEREMOS ASSOCIAR A
ESTE O CASO DO BURNOUT)
O
estado desafiador é claramente o estado ideal do desenvolvimento da atitude.
Podemos observar a ligação perfeita entre dos conceitos participação e adesão.
Corresponde também a altos níveis de energia positiva e de objetivos
predominantemente orientados para o desempenho. Os níveis de autoconfiança para
atletas neste estado são ideais, sendo o seu pensamento base “Quero tentar de
novo e de novo até conseguir”.
O
estado de Bloqueio e Explosivo, é o estado antecedente ao estado desafiador,
caracterizando-se pela participação do atleta, onde pretende aderir, porém não é
capaz de encontrar os procedimentos adequados para ser bem sucedido. Este
estado corresponde a altos níveis de energia negativa e uma direção de
resultado relativamente aos objetivos. O pensamento característico deste estado
é “ Quero, mas não sei como.” Podemos ainda enaltecer que a resposta
comportamental externa do estado de bloqueio são predominantes em atletas
inibidos, enquanto extrovertidos têm a tendência a serem explosivos nas suas
respostas associadas à frustração de não saberem o “como”.
A
atitude de desistência (associada ao Burnout) corresponde ao estado menos desejado. O atleta aqui não
participa nem adere. Mostra baixos níveis de energia negativa e não tem
objetivos. O pensamento característico deste estado é “Não quero mais nada a
ver com o meu desporto.”, sendo os níveis de autoconfiança muito baixos.
Torna-se essencial prevenir o alcance deste nível de estado de desenvolvimento da atitude dado que, ajustar este estado para outros é muito complexa. Podemos
portanto, associar este estado ao síndrome de Burnout, onde o nível de
motivação é baixo e de autoconfiança também, procuram a desistência e o
afastamento da prática.
Enquadrada que está a temática Burnout e as suas principais habilidades associadas,
vamos juntar os dois factores e enaltecer rapidamente algumas ferramentas gerais para a
questão do burnout em atletas. Porém, a primeira situação a identificar é que o
burnout aproxima-se claramente ao estado de desenvolvimento da atitude de
desistência, onde a energia do atleta é baixa e negativa e onde não há qualquer tipo de
adesão ao projeto desportivo nem definição de objetivos independentemente da
sua direção de resultado ou desempenho.
·
O ponto chave será sempre a prevenção, evitando
que o atleta atinja este estado, reestruturando
os anteriores para que se atinja o estado de atitude desafiadora;
·
Promoção de adesão no atleta (encontrando as suas
motivações individuais e estabelecer um compromisso qualitativo no projeto - de crescimento de carreira),
isso fará com que a energia despendida seja abundante;
·
Definir objetivos de resultado e desempenho,
porém direcionar mais importância para os de desempenho, onde a melhoria e a
superação serão a base da energia positiva a empregar na obtenção
·
Utilização da Visualização mental como forma de
trabalhar a autoconfiança e a antecipação de acontecimentos em competição
· Dar prioridade a
factos, dados concretos, objetividade e detalhe de informação como principal método de
avaliação. Isso evitará o pensamento catastrofico, interpretações e pensamentos baseados nas próprias emoções. Tudo aspetos que desajustam o nosso nível emocional de
experiência desportiva, colocando-nos em estados de desenvolvimento da atitude desajustados;
·
Junto da equipa técnica ter em conta o
planeamento exaustivo e regular de acordo com o estado atual do atleta;
·
Promover a relação treinador-atleta como motor
de facilitação e não de condicionamento;
. Dentro das possibilidades de cada realidade, promover no atleta um equilíbrio possível e funcional das duas áreas funcionamento (desporto, família, pessoal, social...)
Caro leitor,
Até breve!
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