Boa tarde caro Leitor!
Esta semana vamos iniciar o tema sobre a preparação de treinadores e atletas para o fenómeno da competição desportiva. O jogo!
Muitas vezes falamos que o jogo deve ser preparado tendo em consideração o Modelo de Jogo da equipa... a tal identidade, onde englobamos o fatores filosóficos que integram a parte táctica, técnica física e psicológica. Ou então, como os últimos congressos científicos da área e a evolução do próprio desporto salientam - A estratégia! Que consiste na análise dos pontos fortes da nossa equipa, das possíveis debilidades do adversário e na construção de um programa de conteúdos de treino onde se integram a repetição de movimentos/dinâmicas que poderão aproveitar as debilidades do adversário. Para partirmos do pressuposto da estratégia existe uma área técnica determinante - O Scouting!
Bem, mas será que, tanto na preparação do jogo tendo o foco exclusivo no modelo de jogo, ou na estratégia, se dá o devido enfoque na preparação do jogo dos pés á cabeça?
Será que se tem em consideração que o período pré-competitivo consiste:
- num momento carregado de tensões e incertezas sobre os resultados que se poderão obter?
- num conjunto de preocupações quer de atletas que de treinadores sobre o seu próprio desempenho?
- num punhado de dúvidas sobre as capacidades de alcançar o resultado desejado?
Este conjunto de questões provocam nos atletas (e claro, também nos treinadores) altos níveis de ansiedade antes da competição, podendo apresentar como consequência uma quebra no desempenho. Pois se os atletas vivenciam níveis elevados de ansiedade automaticamente é afetada a coordenação e a execução de ações motoras finas. (o passe ou o remate podem sair com menor precisão, ou a exposição aos padrões de comportamento a apresentar no jogo podem sair com menor rigor/eficácia)
Devido a esse aspeto, é essencial os treinadores colocarem a seguinte frase na cabeça:
- O treinador não deve criar expetativas de que os atletas apresentem as suas melhores performances á medida que a competição se aproxima. O pensamento que a Psicologia do Desporto destaca para esta situação é "Menor exposição do atleta quanto mais próximo estiver da competição!"
Como já perceberam o artigo de hoje é direcionado para os treinadores. Dando aqui uma perspetiva sobre o contributo da Psicologia do Desporto e sobre o seu trabalho integrado, junto do treinador, na preparação da fase pré-competitiva! Tudo envolve planeamento, tudo envolve treino!
O que poderá o treinador fazer para estar preparado para as circunstâncias do estágio de pré-competição?
A resposta direta que costumo dar aos treinadores com quem trabalho é: "Deves transformar pontos de interrogação (Dúvidas) em pontos de Exclamação (Certezas)!"
A melhor forma de se fazer isto é oferecer um plano de jogo objetivo e viável, que os atletas tenham dominado e que tenham capacidade de o executar. Desta forma, o treinador dissipa as dúvidas dos atletas ao distribuir papeis claros a ser desempenhados por cada um na competição, dando o suporte tático de forma a que cada atleta tenha sensações de autoeficácia/controlo/confiança antes da competição.
Uma das situações que já verifiquei no decorrer da minha prática profissional, é observar que alguns treinadores deixam informações relevantes sobre os adversários para as últimas palestras antes da competição. Este aspeto traz á equipa as tais interrogações, incertezas e dúvidas de última hora.
- Que o treinador esclareça as dúvidas e incertezas com a antecedência suficiente para a competição;
- Definir o papel claro de cada atleta dentro da estratégia;
- Oferecer o suporte necessário para o esclarecimento de dúvidas por parte do atleta.
Quanto mais próximo estiver o momento da competição, mais o campo de percepção dos atletas reduz, e mais rígidos se tornam as suas amplitudes de atenção. Ou seja, a sua atenção é mais reduzida e o atleta apresenta menos capacidade de adquirir ou processar novas informações de última hora. Por isso, todos os contactos do treinador com os atletas, quer seja individual ou coletivo, devem ser reduzidos e sem grandes novidades de informação (conteúdos estratégicos ou comportamentais de última hora).
Uma das chaves do treinador para o momento pré-competitivo é a sua própria regulação emocional. Para isso destaco os artigos que elaborei á algumas semanas atrás, no qual deixo aqui os links:
- https://psicologiaaltorendimento.blogspot.pt/2018/03/o-treino-do-treinador-treinar-as.html
- https://psicologiaaltorendimento.blogspot.pt/2018/03/o-treino-do-treinador-treinar-as_16.html
O treinador que não se torne numa carga de stress adicional para com os seus atletas já está a ajudar e muito! Já está a dar um passo importante para que a sua equipa mantenha o controlo emocional e a direção de comportamento com a tarefa.
Se juntando a isto conseguir redirecionar desempenhos ou desativar bloqueios emocionais de atletas (ex: o atleta fica a matutar após golo falhado, ou uma marcação mal feita na defesa que originou golo) com poucas orientações objetivas e claras, posso dizer que a sua tarefa está próxima do ideal.
Já percebemos que a competição apresenta um conjunto de variáveis muito complexa para os treinadores:
- Ficam frustrados;
- Ficam irritados;
- Dão feedbacks tendo em conta os seus próprios estados emocionais;
- Passam os seus estados emocionais para os atletas através do processo de comunicação (verbal e não-verbal)
Podemos concluir então, que a competição exige muito controlo emocional por parte do treinador, assim como clareza ao transmitir as mensagens aos atletas. Todo este processo exige treino emocional por parte do treinador e que o mesmo tenha a ideia clara sobre o seu papel no processo de pré-competição, bem como das necessidades que os seus atletas têm.
Desta forma irei destacar aqui 4 pontos que considero essenciais o treinador preocupar-se a integrá-los no seu programa de preparação para a competição.
1. Regulação Emocional na Pré-Competição
Como já falámos o estado de pré-competição envolve alguma tensão nos atletas, sendo então levantada a necessidade de a reduzir durante este período. Neste sentido, é importante que o treinador incorpore no seu programa de análise de treinos, variáveis psicológicas que detetem o perfil de competição de cada um dos atletas que integram a equipa. De forma a perceber qual o seu grau de atuação perante cada um.
Seguem então as variáveis que a grande parte da literatura considera de destaque integrar nas observações no estado pré- competitivo (exemplo: Poucos dias antes da competição e momentos prévios á competição)
- Motivação;
- Cognição;
- Comportamento;
- Reação Fisiológica
- Relações Inter-Pessoais
2. Focalizar no Plano de Jogo - Rever o NOSSO Plano!
Aqui o principal desafio é retirar a incerteza do resultado ao atleta. Evitar que ele centre única e exclusivamente os seus pensamentos na obtenção do resultado. Como já falei em artigos anteriores, a chave central para tirar da cabeça do atleta a obsessão pelo resultado diz respeito á orientação do atleta para o desempenho, para o plano de jogo, para o seu papel dentro da estratégia definida. Isso sim ele controla. Isso sim traz mais estabilidade.
Alto rendimento desportivo e plano de jogo têm de ser duas palavras intimamente ligadas, para isso:
- Deve-se analisar o nosso NÓS! ou seja, o que temos de fazer para alcançar o que pretendemos;
- Essa analise deve ser efetuada com uma preparação emocional antecedente á competição, de forma a que os atletas consigam fazer a transferência para a competição.
- Deve ter-se sempre em consideração que o foco está no desempenho, de modo a aumentar a probabilidade de obtenção de melhores resultados.
Três questões que ajudam o treinador a direcionar-se para o desempenho nas suas reflexões e análises:
- Havia um plano de jogo?
- Os atletas foram capazes de o executar? (o que conseguiram? o que não conseguiram?)
- O plano de jogo foi bem construído?
3. Gerir a Atenção Antes e Durante a Competição.
Como nos dizem De Diego e Sagredo (1992) a atenção é a capacidade do atleta manter a atenção sobre um estimulo por sí escolhido ao longo de um dado período de tempo.
Um treinador deve ter o conhecimento de como guiar a atenção dos seus atletas, prioritariamente nos períodos de pré competição e durante a competição, Neste sentido, o treinador deve aprender quais os principais focos de atenção do atleta, devendo determinar que foco de atenção se deve utilizar para cada estágio do treino desportivo que envolve a competição (pré e durante).
Para dar uma pequena ajuda seguem os principais focos de atenção:
Amplo -Externo : Usado para rapidamente avaliar uma situação. Por exemplo, o tipo de atenção que é exigido inicialmente durante um contra-ataque no futebol;
Amplo-Interno: Usado para análise e planeamento. Exemplo, tipo de atenção usado para realizar uma estratégia de jogo;
Restrito-Externo: Usado para o atleta focar-se apenas em um ou dois objetos. Exemplo: Bola;
Restrito-Interno: Usado para fazer uma revisão mental de uma ação a executar no jogo. O atleta a visualizar mentalmente a rematar de uma determinada zona com sucesso.
4. Comunicação Intra e Interpessoal durante a competição
Muitas vezes, ao assistirmos a jogos, vemos muitos atletas e elementos do banco a comunicar. Quase sempre mensagens emocionais e pouco preparadas, tornando-se as mesmas pouco eficazes e nada alinhadas com a direção da tarefa. Para que tal não aconteça é determinante, no período pré-competitivo construir um modelo de comunicação, que organize e torne este processo tão essencial, numa ferramenta eficaz para toda a equipa.
- Quem vai comunicar?
- O que deve ele comunicar?
- Qual o volume da comunicação a ser utilizada por ele?
- Como deve ser a sua comunicação?
O próximo artigo manterá o tema da preparação do jogo... desta vez, para atletas!
Caro Leitor,
Até Breve!
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