Ver um jogo de Portugal ,numa competição com o impacto emocional de um Mundial, com um bloco de notas ao lado é um tremendo desafio. Nestes grandes eventos há tendência para ver o futebol na sua verdadeira essência emocional… com o seu lado mais cru e puro que o mesmo apresenta. Passamos de estados de euforia a estados de depressão em "frames" de tempo, e ainda damos umas "pinceladas" na raiva quando, por exemplo, o árbitro toma uma decisão que nem sempre é fácil de digerir.
Entramos neste mundo emocional, que por vezes nos tira a lucidez na análise factual dos acontecimentos. Mas vamos a isto. Jogo que se perspetivava interessante, com Marrocos que vinha de uma Qualificação com zero golos sofridos, o que revela a sua qualidade na organização defensiva e já agora muita qualidade lá á frente… Quem viu o jogo contra Marrocos percebe que foi a parte mental que os afastou da tarefa… que lhes trouxe impaciência e como consequência ausência de soluções. E nós? Nos vínhamos de um resultado positivo contra uma seleção top mundial e com o modelo de jogo ultra consolidado.
Se olharmos só para o resultado, logicamente que estaríamos totalmente satisfeitos, mas o desempenho, a ausência de intensidade, a dificuldade em ter bola com conforto e o facto de nos encolhermos perante o poderio Espanhol fazia torcer um pouco o nariz. Enfim, um jogo decisivo para Marrocos e um jogo muito importante para as nossas contas para a passagem no grupo.
O que vi eu em traços gerais?
- Fernando a tirar Bruno Fernandes e a colocar João Mario. Pensei logo em posse, equilíbrio, ajudas no corredor lateral, circulação. Tal não se verificou;
- Portugal a entrar bem, com uns primeiros 4 minutos a dar a ideia que iriamos estabilizar o nosso jogo e controlar os seus ritmos e momentos. Mais uma vez marcámos cedo… tudo para termos estabilidade da aplicação do nosso plano de jogo;
- Após o golo e da boa reação de Marrocos - com pressão após perda de bola e jogo de elevada intensidade - nós sentimos muitas dificuldades. Sentimos um desconforto enorme com a tal pressão, perdendo algumas bolas em zonas de risco (primeira fase de construção), esse desconforte fez com que optássemos muitas vezes pelas bolas em profundidade. E sempre que conseguíamos sair tínhamos dificuldade em circular e perdíamos bola facilmente (perdas de bola não forçadas e perdas em ações de 1x1). Ou seja, á medida que aumentava o nosso desconforto, aumentava o conforto de Marrocos e a confiança na aplicação das suas tarefas;
- O tal desconforto com bola. Como disse Fernando Santos. "Parecia que estávamos com medo de ter a bola". Algo a trabalhar e a rever pela equipa técnica e pelos atletas. Quais as dificuldades principais? Quais as prioridades a serem trabalhadas? Como o vamos fazer? Sem esquecer nunca que houve também momentos positivos no jogo! Temos capacidade para controlar melhor os momentos e os ritmos… sem nos encolhermos quase até nos asfixiarem. Somos mais somos muito mais;
- O nosso lado esquerdo foi bastante vulnerável. Grande parte das ações ofensivas de Marrocos foram construídas por essa zona do jogo. Raphael Guerreiro em claras dificuldades nas ações defensivas, e nem sempre com uma ajuda efetiva por parte do seu companheiro de setor;
- Tenho destacado apenas aspetos ligados á produtividade de jogo, á aplicação dos princípios e das dinâmicas e rotinas. Mas se nisso há claros aspetos a rever (sem entrar em catastrofismos, mas sim construtivismos), há um aspeto em que estamos a top. A vertente do ambiente de grupo. A esse nível nota-se um tremendo compromisso por uma causa, por um sonho, na forma como festejamos o golo, na forma como os colegas reagem á defesa de Patricio, na forma como se superam os jogadores com cada intercepção já com o jogo a acabar. E se temos 4 pontos, muito se deve a esta grande área da liderança… o ambiente de grupo. E nisso estão de parabéns os jogadores, equipa técnica e o grande trabalho da FPF;
- Grande Grande Grande Rui Patricio. Só um guarda-redes com a estrutura emocional que ele construiu e consolidou, consegue usufruir e extrair total rendimento num contexto onde tudo o que é paralelo (acontecimentos Alcochete, rescisão, novo clube…) é novo e instável. Que defesa aquela na segunda parte!! Uma intervenção que vale pontos, e quiçá! Qualificações;
- Ronaldo o melhor do mundo. Mais uma vez decisivo… neste jogo mais distante do que lhe é habitual, tentou baixar muitas vezes para tentar construir, tentou vir buscar o jogo que lhe faltava lá na frente… Impressionante a forma como lidera, dá feedback e mantém todos os colegas direcionados para o sucesso. Que capitão estás Cristiano;
- Destaque para Marrocos que apresenta uma organização e intensidade de jogo capaz de colocar problemas a qualquer seleção que enfrente. Mérito para a forma como condicionou e colocou exposto alguns dos aspetos que temos de melhorar.
- Destaque para Marrocos que apresenta uma organização e intensidade de jogo capaz de colocar problemas a qualquer seleção que enfrente. Mérito para a forma como condicionou e colocou exposto alguns dos aspetos que temos de melhorar.
- Ainda estamos bem longe do que podemos e vamos certamente ser!
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