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Quando a equipa é mais forte que a soma dos seus elementos.



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Olá caro leitor!

Hoje vamos falar de equipas! Perceber o porquê do coletivo ser tantas vezes enaltecido pelos atletas e staff técnico que compõem uma equipa desportiva. Sendo por vezes a base principal de fundamentação na hora em que analisamos uma época desportiva. Quase sempre o fator "grupo", "coletivo", "equipa" é destacado. Tanto numa lógica de sucesso ou insucesso, nesse tal momento de pesar a balança no que aos objetivos de resultado diz respeito.

Podemos atestar algumas das citações referidas á imprensa por treinadores e atletas, na hora de fazer o balanço á época em que os seus respetivos clubes integraram:

 - " Vencemos graças ao coletivo, formámos um grupo muito forte e unimo-nos em torno do que todos ambicionávamos… Ganhar o Campeonato."

- "Conseguimos o nosso objetivo. Mas o que eu mais quis durante a época era criar uma marca de jogo. Olharem para nós e perceberem que tínhamos a nossa filosofia bem definida. Isso foi conseguido"

- "Não conseguimos o que queríamos. A época foi atípica."

- " Conseguimos na última jornada o objetivo que definimos. Quero dar os parabéns aos jogadores, pois perante tanta adversidade, foram excecionais e deram tudo para que no fim festejássemos. São eles os responsáveis."

Aqui estão algumas das citações chave deste final de época da Liga NOS. Como podemos ver, a maior parte das frases de destaque orientam-se para o grupo. Dão destaque ao coletivo, á estabilidade, á coesão e á filosofia (identidade) como base para o alcance o afastamento das metas propostas no inicio da época.

Terá então, uma equipa, sempre mais força que a soma dos seus elementos? A minha resposta é clara. Depende! Essencialmente pela forma como os fatores externos ao trabalho de produtividade da equipa são cuidados e treinados! Se para além dos aspetos técnicos e táticos que geralmente são os que se encontram dentro da zona de conforto do treinador, são integrados também conteúdos que trabalhem o ambiente de grupo, o desenvolvimento individual do atleta e o respeito e enquadramento pelas fases de evolução de uma equipa de alto rendimento. Se estes aspetos forem trabalhados complementarmente á produtividade a minha resposta é clara… Sim a equipa tem tudo para ser interdependente, coordenada, organizada e estável. Logo, com todas as capacidades para ser bem mais forte que a soma dos seus elementos.

Se como atleta, sabes e aceitas o teu papel, tens metas individuais e comprometes-te com as coletivas, tens total conhecimento das dinâmicas e estratégias integradas no modelo de jogo, se a isso juntares normas de estabilização do grupo… tens todas as capacidades para te superares e te coordenares com as dinâmicas coletivas. Isso fará com que potencies o teu rendimento pois estás num ecossistema, estável (com os seus conflitos, claro, mas pouco relevantes pois tens as normas a equilibrar o funcionamento) e favorável ao rendimento desportivo.

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As Dimensões da Liderança - O trabalho do Treinador 



Vamos apenas relembrar (pois já abordei em artigos anteriores), as três dimensões da liderança que as equipas técnicas devem integrar nos conteúdos de trabalho para uma época desportiva, tendo em vista alcançar o mais alto nível de desempenho coletivo:

  • Produtividade (tem a ver com o desempenho. Os aspetos relacionados diretamente com o jogo. Os objetivos. Os papeis definidos e as dinâmicas de coordenação propostas);

  • Ambiente de Grupo (Tem a ver com a promoção de estabilidade e interdependência do grupo. Para que estes aspetos estejam salvaguardados é essencial existirem normas objetivas, promover a coesão social e de tarefa e manter sempre os canais de comunicação abertos com a equipa e cada elemento que a compõe);

  • Desenvolvimento Individual ( Visão e Motivação. Esta dimensão corresponde ao lado mais individual do atleta, á sua compreensão e projeção de futuro, definindo com o próprio uma visão de carreira dentro do clube, através do alcance de pequenas metas de resultado e performance).


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Conflitos á Produtividade, Ambiente de Grupo e Desenvolvimento Individual


Porquê que podemos considerar estas três dimensões como fundamentais para o rendimento e estabilidade de um grupo? Pois são os fundamentos destacados para o sucesso e a causa para  que grande parte dos conflitos que possam existir  no decorrer de uma época. Ora vejamos algumas causas mais usuais para potenciais conflitos:

  • "A equipa não está a ter o desempenho que deveria ter." - Produtividade

  • "Estamos a encontrar problemas entre os elementos da equipa." - Ambiente de Grupo

  • "Andamos a verificar que alguns atletas estão desmotivados. Parece que vêm para aqui sem vontade" - Desenvolvimento Individual
Se pensarmos em cada um dos conflitos que referi, podemos verificar que já o experienciamos no nosso contexto de atuação. Já vivemos, já questionámos que ferramentas poderíamos utilizar e a forma como lidar, enquanto elementos da equipa técnica com este tipo de situações. Porém, acima de tudo está o fator tempo. 

Aquele fator que nos conduz do primeiro dia de trabalho de uma época desportiva, onde todos nos conhecemos e damos a conhecer, ao processo de avaliação final que corresponde ao final da época. Todo esse processo é uma viagem, de avanços e recuos. De convicções e duvidas. De variáveis controláveis e tantas outras em que de controlo temos zero! Porém, para que todo o trabalho de produtividade, ambiente de grupo e desenvolvimento individual seja potenciado, é determinante conhecermos as fases de evolução de uma equipa desportiva e a forma como a equipa técnica se poderá enquadrar e trabalhar em cada uma das fases. 

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Será um Grupo o mesmo que uma Equipa?


Vamos então recorrer a Weinberg & Gould para perceber de Grupo e equipa são a mesma coisa, ou se de facto á características que as distingue. Os autores destacam que o elemento-chave que define um grupo tem a ver com as características da interação entre os seus elementos. Tendo esta interação certas características que a definem como grupo:

  • Partilha de objetivos comuns (de resultado e desempenho… têm uma causa em comum);

  • Química interpessoal em relação á tarefa pendente ( identificam-se e coordenam-se (produtividade) para a realização das tarefas, com vista ao alcance das metas)

  • Têm canais de comunicação abertos (conteúdos e formas objetivas, honestas e claras de comunicação entre os atletas e equipa técnica-atletas)

  • Interdependência e interação no que diz respeito á tarefa (todos apresentam um papel/função válida e ativa para o alcance das metas - percebendo a importância e dependência entre todos para o sucesso)

  • Sentimento de pertença coletiva (sentem a equipa e todos os conteúdos que a integram - metas, papeis, normas, valores, dinâmicas coletivas…)

Agora que percebemos as características base de um grupo. Quais poderão ser os fatores mais importantes para o desenvolvimento de um grupo com este tipo de ADN?

  • Proximidade:
 A tal proximidade física e contacto diário entre os atletas. Quando a equipa está próxima tem sempre tendência para estabelecer vínculos, devido ao tempo que passa junta. porém, esta proximidade física não é suficiente. A isto deve-se fomentar a interação, adaptação e aceitação de diferenças individuais, similaridades e a identificação com os objetivos de grupo e recompensas (individuais e coletivas). Tudo isto ajuda a promover o desenvolvimento do grupo

  • Distinção:
Á medida que se aceitam as diferentes características sociais e de tarefa de cada elemento da equipa, o sentimento de pertença para com o grupo e vê-lo como uma unidade também aumentam. Podemos também destacar valores históricos da equipa e clube no qual trabalhamos para ajudar a criar esse sentimento de distinção perante o exterior. Que temos um conjunto de características que nos distingue dos demais.

  • Similaridade:
Aqui falamos de atitudes, expectativas, compromissos e capacidade individual e coletiva. A equipa técnica tem de desenvolver um trabalho que desenvolvam as características que destaquei. Definição de objetivos de grupo e de como os alcançar, enquadramento das expectativas para o comportamento de cada atleta e um código de conduta (normas), podem ser algumas das estratégias.

  • Objetivos de Grupo e Recompensas:
Definir objetivos de grupo, é essencial para unir, orientar e motivar a equipa. Sendo essencial definir também as recompensas caso as metas sejam alcançadas.

Tendo em conta o que foi referido até aqui podemos considerar que um grupo e uma equipa são exatamente a mesma coisa? Não!

Posso referir que a principal diferença se encontra no fator… Tempo! A formação de uma equipa de alto rendimento passa por um conjunto de processos evolutivos, desde o momento em que se conhecem até ao processo de rendimento, onde aí já se encontra definida a equipa". 

O  processo de evolução envolve quatro fases, sendo essencial o treinador identifica-las e perceber qual o seu posicionamento para cada momento. 

Na segunda parte desse artigo, irei destacar as 4 fases de evolução de um grupo, enquadrando o papel do treinador/equipa técnica, bem como destacar algumas ferramentas gerais que podem ser uteis para que "A equipa seja mais forte que a soma dos seus elementos."

Caro leitor.

Até breve!


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