Bom dia, caros leitores!
Hoje o desafio passa pelos treinadores!
Espero que este artigo os faça refletir sobre o tipo de modelo de ensino-aprendizagem que mais aplicam no seu contexto de atuação - o treino e o jogo! O que poderiam alterar para melhorar/ajustar a sua experiencia desportiva e a sua qualidade global no contacto com os estímulos do jogo e do treino e claro está... no contacto com os seus atletas!
Antes demais torna-se determinante explicar isto do processo ensino-aprendizagem, que tem sempre como finalidade ajudar a desenvolver nos atletas as capacidades que os tornem capazes de estabelecer uma relação comportamental eficaz com o seu meio de atuação (contexto desportivo), servindo-se para esse efeito das suas capacidades sensório-motoras, cognitivas, afetivas e comunicacionais.
Com o desenvolvimento da sociedade e o boom tecnológico existente, todo este processo educativo sofreu alterações, pois todo o acesso à informação no Séc XXI aumentou exponencialmente, alterando consequentemente as características das Gerações mais novas como vimos no artigo que publiquei anteriormente. O processo de ensino-aprendizagem readaptou-se clivando dois vetores: O processo de ensino aprendizagem do Séc. 20 e o processo ensino-aprendizagem do Séc 21. Vamos ver as principais características que os distinguem e o leitor pode aqui começar o seu processo de identificação com as suas características de atuação.
Processo Ensino-Aprendizagem Sec.20:
- Imposição e Transmissão do Conhecimento (por parte do treinador)
- Elemento Passivo na Aquisição do conhecimento (na ótica do atleta)
- O treinador tem papel de liderança, considerado o elemento com conhecimento superior
- Uso do computador, mas ainda sem grande influencia no seu método de trabalho junto dos atletas.
Processo de Ensino-Aprendizagem Sec. 21:
- Criação de novos conhecimentos (os modelos estão em constante reflexão e evolução)
- O atleta é um elemento ativo na aquisição do conhecimento
- O treinador perde o seu papel total de liderança, apresenta sim uma maior conexão com o atleta, apresentando um papel mais próximo de tutor;
- Foco na motivação, na resolução de problemas e no trabalho de colaboração entre todos os elementos
-Desenvolvimento e promoção de habilidades onde a autonomia é a base. Plataformas virtuais de ensino presentes
O processo ensino-aprendizagem, de passagem da mensagem e de conhecimento tem em consideração mais variáveis que em gerações anteriores. Para que todo este processo seja eficaz no contacto com os atletas durante uma época desportiva temos de ter em consideração quatros grandes pontos, que os identifico neste momento mas irei explorar em artigos futuros:
1. O planeamento (necessário para definir o caminho que os treinadores têm definido... torna-se essencial que este planeamento deve ser adaptado ao contexto, à fase atual e a potenciais constrangimentos);
2. Adesão (tem a ver com a presença total do atleta no treino... se o atleta adere, vai adquirir conhecimentos, atitudes e habilidades...)
3. Transferência (A aplicação dos conhecimentos, atitudes e habilidades em contexto de jogo)
4. Avaliação (Avaliação objetiva e concreta dos acontecimento de competição como ferramenta para melhoria futura)
Bem após este pequeno enquadramento vamos para uma fase mais pratica onde simulo uma entrevista com dois treinadores, cada um com um modelo de ensino-aprendizagem distinta.
Enquadramento: Nesta
actividade vou confrontar duas ideologias distintas no que refere ao processo
ensino- aprendizagem, uma mais direcionada para o modelo associado ao século XX
e outro associado ao paradigma do século XXI. Para isso vamos simular uma interação
de perguntas (associadas ao alto rendimento desportivo) e respostas, onde a
cada questão está associada a resposta de dois técnicos, cada um com o seu
paradigma de ensino.
1. Como planeias a época desportiva? Na
construção integras a opinião e participação dos teus atletas no processo?
Treinador Sec. XX:
Planeio de acordo com as minhas ideologias, tenho o meu modelo de trabalho, no
qual acredito e o mesmo mantém-se estanque à alguns anos. Escolho os atletas em
função do meu modelo, bem como todo o processo de treino. Depois o papel é
claro, liderar, informar e expor as minhas ideias ao grupo de trabalho bem como
as suas funções durante a época. Quanto à segunda pergunta, acho importante a
opinião dos atletas, porém, tento sempre expor as minhas ideias, pois são as
que vão ao encontro do meu modelo de jogo.
Treinador Sec.
XXI. Antes de falar como planeio,
gosto sempre de dizer que o planeamento não é rígido, nem estanque, é adaptável
ao estado actual e às necessidades da equipa no decorrer de uma época
desportiva. Prefiro falar de construção, tenho uma filosofia de jogo, baseada
nas características dos meus atletas e todo o treino é direcionado para essa
mesma filosofia, onde a observação e a avaliação individual e coletiva são
permanentes, temos parâmetros de avaliação em que, junto com os atletas vamos
partilhando ideias e evoluindo como grupo. Quanto à segunda pergunta, por vezes
até digo que sou mais um facilitador de análise e de conhecimento do que um
lider hierárquico, por exemplo, na definição de objetivos para uma época, não
sou eu sozinho que os defino, sou eu e a minha equipa, os meus jogadores, onde
nesse momento pratico o peso hierárquico é igual.
2.
O
microciclo é um conjunto de momentos de preparação para a competição. Que métodos
utilizas? Como Preparas?
Treinador
Sec. XX: Tento preparar o jogo ao detalhe, vou ver jogos ao
vivo do adversário e de vez em quando trabalho com o scouting imagens dos
momentos que eu considero chave. Depois durante a semana em pequenas palestras,
informo os atletas sobre os comportamentos base do adversário e que estratégia
vamos utilizar, transferindo os conteúdos para o treino, onde no final avalio o
que não correu tão bem para corrigirmos. Como eu costumo dizer é um ciclo de
“fazer, refletir, fazer, refletir”, e sim, os pontos a melhorar, pois considero
o que fizemos bem como algo normal e não valorizável.
Treinador sec.XXI: Estamos
numa fase sociológica onde as tecnologias são o denominador comum, por isso
posso dizer que para preparar uma semana de trabalho para o jogo uso de tudo.
Sistemas de observação, redes sociais, vídeos motivacionais, interações
presenciais e debates de ideias com os atletas no fim do treino, tudo isto
tendo em conta a facilidade na partilha de informação, porem, todos estes
momentos assentam na filosofia que definimos no inicio da época, bem como nas
metas estabelecidas por todos. Quanto à preparação, preocupamo-nos primeiro
connosco, depois com o adversário, vemos vídeos nossos e do nosso adversário,
em que proponho uma estratégia e em toda a semana os conteúdos são direcionados
para a nossa estratégia, mas atenção, sempre com os comportamentos dentro da
nossa filosofia de jogo.
3.
Queres
optimizar o rendimento individual de um atleta. Que métodos e ferramentas
utilizas nesse processo?
Treinador Sec. XX: Primeiro
de tudo identifico que necessidades o atleta pode ter para evoluir, dentro do
papel que quero que ele tenha na equipa. Numa segunda fase transmito o que
pretendo que ele faça para evoluir dentro do que eu quero para ele e para a
equipa e trabalhamos dentro dessa base. Na equipa de trabalho eu sou o líder e
neste caso imponho a minha ideia, não há tempo para negociações, sei qual é o
caminho e como se faz para chegar onde eu quero, por isso o atleta só tem de
saber fazer o que eu pretendo!
Treinador Séc. XXI:
Que pergunta complexa essa! Já viu o número interminável de variáveis que um
atleta tem? Influências socio-culturais, biológicas, técnicas, táticas, físicas
e psicológicas. Um mundo de variáveis para nós observarmos, identificarmos e
avaliarmos. Posso dizer-te que para melhorarmos um atleta (ou um grupo) há
fases 5 fases essenciais: o planeamento (que tem de ser sempre adaptável à
evolução, estado atual e características do atleta); a adesão, onde colocamos o
atleta perante a/as competência/as que pretendemos ver trabalhada/as,
promovendo novos conhecimentos, atitudes e habilidades; a transferência, onde
verificamos o que o atleta conseguiu, através da fase da adesão e transferimos para
o processo de jogo os recursos que pretendemos que oPtimize; e por fim a
avaliação, sendo que este processo tem de ser contínuo e objetivo, é a fase em
que vamos verificar o grau de efetividade do trabalho de evolução do atleta
e/ou equipa. Todo este processo tem de ter como base o feedback constante com o
atleta e a partilha de informação, sendo este um processo conjunto e
permanentemente partilhado.
Observações Finais: Espero que com este artigo o leitor tenha efetuado uma pequena reflexão entre o artigo e o seu próprio trabalho pratico no decorrer da época desportiva, quais os meios e ferramentas que utiliza para construção do treino e jogo em contacto com os seus atletas. Mas essencialmente que perceba que este processo requer permanentemente planeamento (ex: sessão de treino); Adesão (do atleta ao processo, caso haja, o atleta ira adquirir novos conhecimentos, atitudes e habilidades), transferência (a aplicação do que foi adquirido para o contexto de jogo) e a Avaliação (ferramenta-chave para a evolução).
Caro Leitor,
Até Breve!
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