Bom dia caro Leitor,
Semana com chuva, mas semana recheada de interesses desportivos, onde o seu
foco central máximo se direciona para o clássico de sexta feira: FC. Porto vs
Sporting CP.. E temos aqui logo duas perspetivas interessantes de analisar. A
do adepto que se encontra já com o pensamento virado para o resultado, onde o
coração já começa a palpitar, fazendo transparecer essa desregulação nos
típicos comentários em café, ou agora substituídos pela virtualidade das redes
sociais: e temos a perspetiva dos agentes desportivos dos dois clubes, e aqui
focalizo-me em atletas e equipas técnicas. Aqui o enfoque para além do
resultado é a preparação e o controlo de variáveis, que geralmente se divide em
duas fases:
- Fora do campo (sessões de vídeos, relatórios comportamentais de atletas adversários e definição clara da estratégia e dos cenários correspondentes);
- Dentro do campo ( a aplicação da estratégia e antecipação dos cenários dentro do terreno de jogo).
Acredito que esse trabalho dentro de campo, de aproximação aos estímulos da
competição, seja feito o mais cedo possível no microciclo. Pois neste tipo de
competições, quanto mais próximos estamos do jogo, maior é a ansiedade, logo
maior dificuldade teremos na aquisição e aplicação dos conteúdos pretendidos.
Pois a concentração é demasiado reduzida e os movimentos motores sem a
coordenação que se pretende para a aplicação deste tipo de treino.
Treino, falamos de treino e vamos ao encontro do titulo do artigo de hoje.
O treino Psicológico. É aplicável? Como se Aplica? Em que momentos? Fazemos de
forma integrada no treino ou individual? Mas então o Psicólogo não é só no
gabinete a dar consultas? Como forma de responder ás questões, desafio-me a
criar um possível diálogo entre um Técnico em Psicologia do Desporto que está integrado
na equipa e o Treinador.
Para isso começo com a citação de Buceta (1998),“A intervenção psicológica
no mundo dos desportos competitivos pode ajudar a optimizar o desempenho do
atleta em sessões de treino, garantindo que o tempo gasto no treinamento seja
aproveitado ao máximo possível.”
A intervenção Psicológica, como uma das áreas do treino desportivo, melhora
e prepara o atleta para corresponder de forma mais eficaz e completa aos
estímulos presentes na competição. E para que assim se suceda, é necessário
treino de:
- aprendizagem;
- repetição;
- exposição aos estímulos da competição.
Exatamente da mesma
forma que o treino técnico, fisico e tático. Porém, ainda existe alguma
relutancia por parte de alguns treinadores e até mesmo atletas, sendo a sua
principal causa o desconhecimento do trabalho e das consequências favoráveis do
mesmo. Vamos então criar aqui um diálogo com entre um consultor em Psicologia
Desportiva e um Treinador que apresenta alguma relutancia ao trabalho
Psicológico.
A Reunião decorre no periodo da manha antes do treino e o objetivo do
consultor passa por expôr a importância do treino alternativo como um método
eficáz para a melhoria das capacidades do atleta.
Treinador: Bom dia! O que temos hoje de novo? Na sessão a anterior acabámos o programa
para eu melhorar as minhas capacidades Psicológicas. Gostei. Sinto-me mais
capaz, essencialmente em momentos de tensão, em que estamos a perder. Antes
revoltava-me e perdia capacidade de observar e tomar as melhores decisões para
a equipa. Ah e passava o stress paraa eles. Agora tenho as ferramentas que
definimos para manter o meu foco no presente e regular a ativação. Espetáculo.
Que temos mais?
Técnico Psicologia Desportiva: Bom dia Coach!! Vejo que está cheio
de motivação e fico muito satisfeito por essa evolução. Através dos meus
registos de obsevação e análise de videos da competição consegui verificar que
de facto está com um nivel de controlo superior. Parabéns por todo o seu compromisso!
Hoje falo-lhe de conteúdos associados ao planeamento de treino. Sabe, já
trabalho com a equipa á algum tempo e uma das situações que considero
importante implementarmos são os treinos complementares. Ou seja, aquelas
atividades individuais que permitam o atleta incorporar, melhorar,
eliminar ou consolidar comportamentos que consideramos relevantes
para o seu rendimento. Isso fará com que haja um aumento de adesão do atleta a
todo o processo pois, ele sente-se útil, com conteúdos de desempenho
para treinar e percebe que pode evoluir. Quando abordo isto falo não
apenas de ações técnicas, mas também de treino de habilidades Psicológicas.
Treinador: Bem, não estou a perceber bem. Estamos a falar de sessões fora do treino
coletivo em que definirei, individualmente necessidades que pretendo
incorporar, melhorar, eliminar e consolidar? Essa avaliação já fizemos em
equipa técnica e trabalhamos sobre isso no treino coletivo. Não vejo qual a
necessidade de estarmos a dar mais este momento. Percebe, entre o útil e o
agradável, não sei se me compensa acrescentar isso. Por exemplo, o Peter... que
queres que lhe acrecente se a nivel técnico ele tem tudo. Olha-me aquele tiro
exterior!!!! Sabes disso.
Técnico Psicologia Desportiva: Sem dúvida, o Peter é um óptimo exemplo,
tem o gesto técnico perfeito como diz o Coach e a sua eficacia sem oposição/
com oposição passiva (aprendizagem) ou com oposição activa ( aproximação do
treino aos estimulos do jogo) é elevada. Porém pense nos jogos decisivos que
tivemos. Nas fases finais dos jogos foi sempre ele o decisor, a equipa
passou-lhe a bola para ele decidir e ele não conseguiu ser eficaz!
Perdeu a capacidade técnica nesse momento? Claro que não, o jogo é que apresenta variáveis que são necessárias ser treinadas juntamente com a vertente técnica. Este treino alternativo de repetições pode ser no caso do Peter. Repetir a ação técnica em que é forte. Para manter a habilidade! Porém este treino... que terá objetivos de desempenho e resultado trará algumas variáveis como:
- frustração,
- desconcentração,
- stress
E isso também
pretendemos treinar! O Peter já aprendeu as habilidades Psicológicas. Agora necessita
de repeti-las para consolidar, aproximá-las do contexto de competição
para estar apto para as aplicar em competição.
Treinador: Estou a perceber. Ou seja. Do treino Psicológico que fizeste com eles
pensas que é mais eficaz apresentar um treino complementar que vá
individualmente ás necessidades do atleta e criar conteúdos... mesmo que o
conteúdo técnico esteja consolidado para ajudar a consolidar as estratégias que
trabalharam contigo na fase de aprendizagem.
Técnico Psicologia Desportiva: Nem mais!
Treinador: Como fazemos isto?
Técnico Psicologia Desportiva: O treino complementar divide-se em quatro
momentos especificos. Mas atenção isto tem de ser um processo onde o nosso
conhecimento dos comportamentos a manter, consolidar, eliminar e incorporar
estejam muito bem identificados e isso já temos.
Como estava a dizer são 4 os momentos:
- Aprendizagem de habilidades e comportamentos relevantes;
- repetição desses comportamentos;
- prática e exposição ás condições desportivas
- preparação especifica.
Vamos dar o exemplo do
Peter.
A fase de aprendizagem
do lançamento exterior (técnico), bem como das habilidades Psicológicas
fundamentais estão apreendidas).
Vamos agora passar
para a fase de repetição... temos de refletir sobre quantos momentos
semanais... um talvez? Temos de falar com o preparador fisico. Aqui vamos
potenciar os conteúdos em que ele é forte técnicamente mas colocando objetivos
de desempenho e variáveis que possam provocar desconcentração, stress e
frustração para que ele consolide as técnicas aprendidas na fase anterior
comigo . Atenção nesta fase é importante termos em conta que:
- os objetivos de desempenho são prioriatarios mas temos de colocar também de resultado, para termos alguma apróximação aos estimulos emocionais do jogo;
- devemos usar gravações (para basearmos as análises de desempenho através de factos);
- ter em conta o feedback através do reforço e punição;
- trabalhar a tolerancia á dor e fadiga este é um processo que desafia e exige superação por parte do Peter, por isso é essencial direcionar a atenção para a execução e instrução e não para a dor e fadiga;
- e algo que considero essencial: Os registos de informação: perceber qualitativamente o que o atleta sentiu no decorrer do treino e a percepção do mesmo perante o processo.
Após este processo de repetição, em que temos de planear o número de
sessões, sendo o mesmo adaptável no decorrer do processo, passamos para a prática
em condições de competitição.
Esta fase já integrada no programa de treinos de grupo. Pois as habilidades
já foram consolidadas estando em condições de serem aplicadas nos momentos que
já temos nesta fase da época, como:
- Treino conjunto com atletas de um ambiente diferente (convidar equipas de fora ou de outro escalão do mesmo clube);
- simulação de competições em treinos normais;
- aproximação a situações de competição atraves de situações análogas (exercícios reduzidos mas que aproximem os comportamentos aos da competição);
- prática de visualização mental para antecipar cenários de competição.
Por fim, a preparação
para a competição que ja fazemos. Com o primeiro momento fora do campo, analisando
a competição, avaliar o adversário, os nossos recursos e definir a estratégia e
o segundo periodo dentro do campo, ou seja, a prática. Como vez, este processo
de treino psicológico dá para ser integrado tudo o que já fazemos.
Treinador: Falamos com o Preparador fisico, desenvolvemos o programa e vamos a isso!
Considerações Finais: Vou ser muito breve pois o único aspeto que pretendo
destacar ao leitor é que, com este diálogo pretendi dar a conhecer o que um
técnico em Psicologia do Desporto faz integrado numa equipa técnica, ou num
clube. O objetivo é trabalhar de forma integrada, incluindo no programa de
treino os seus conteúdos de trabalho. Para isso é necessário que haja total
abertura de toda a equipa técnica para um trabalho que deve ter como base a
Multidisciplinaridade. Todo este trabalho como qualquer outro, seja técnico físico
ou tático deve incluir sempre as seguintes fases: Aprendizagem das habilidades;
Repetição das habilidades; Aproximação das habilidades ao contexto de
competição e Preparação para a competição.
Caro Leitor,
Até Breve!
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